28 maio, 2005

O Segredo das Rendilheiras

“A tradição já não é o que era”, dizem. Mas quando falamos em Renda de Bilros o caso muda de figura. Maria Lapa, de 72 anos, é uma das rendilheiras de Vila do Conde que preserva esta arte, não só na escola do Museu de Rendas de Bilros de Vila do Conde, mas também em casa, passando o testemunho à sua neta por afinidade, Gabriela Brito.

Por: Filipe Fangueiro

Maria teve, desde muito nova, o contacto com esta arte já secular. Foi aos cinco anos que começou a rendilhar. Confessa que «ficava muito triste quando a avó me negava a possibilidade de seguir essa profissão». Mas foi pelo gosto (e pela persistência) que conseguiu ser rendilheira a tempo inteiro. Deixou de estudar e, aos dez anos, era quase uma profissional, aperfeiçoando e ensinando quem lhe pedia. Nunca negou um trabalho e uma ajuda a ninguém: a paixão pelos Bilros era grande. Foi por isso que aceitou, desde logo, ensinar a sua «recente neta».

Gabriela é uma jovem brasileira, de 19 anos, casada com um dos netos de Maria Lapa e nunca tinha tido contacto com estas rendas no seu país. Foi então que viu Maria, sentada em frente à almofada a rendilhar.

Apaixonou-se. Decidiu-se entregar à aprendizagem desta Arte. Começou e nunca mais quis parar. Segundo Maria, «Gabriela teve o dom do carinho que uma rendilheira deve ter com a renda». Apesar do sangue não ser o mesmo e a diferença de idades ser grande, Maria e Gabriela encontram, nelas, laços de união: o amor pelas Rendas de Bilros e a sensação que têm quando se sentam à frente da almofada e rendilham até altas horas da noite. «É fantástico como algo que dá tanto trabalho nos pode dar tanto prazer», dizem.

Para Maria, as rendas são uma vida, um amor antigo; para Gabriela é um legado, é uma continuação. Contudo, Gabriela não quer ser rendilheira de profissão. Decidiu não o ser seguindo um conselho da avó: «a vida de rendilheira não é fácil. Nem sempre se tem trabalho e as rendas, muitas vezes, não têm o valor mais justo». E é com esta experiência que Maria confidencia: «a Renda de Bilros tornou-se um vício», um vício que se torna uma Arte a preservar.

Apesar de tudo, Teresa Pimenta, professora de técnicas especiais no Museu de Rendas de Bilros tem uma visão um tanto ou quanto pessimista: «Temos pessoas jovens a aprender a arte de rendilhar, mas no seu futuro não incluirão as rendas, o que fará com que Vila do Conde seja, possivelmente, uma das próximas cidades a perder esta tradição» afirma.

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