26 junho, 2004

Quatro paredes com vista para um canudo

Quatro paredes: um imenso espaço, repleto de ambições, sonhos, aventuras, histórias e ...estórias. Estamos a falar exactamente de quê? De Alojamento Universitário.

Por: José Silva

O alojamento universitário é um problema que preocupa milhares de alunos que todos os anos procuram um lugar seguro, cómodo e económico para viver durante os anos de estudo superior.
Para uns, um quarto é suficiente. Para outros, o grau de exigência é superior: requerem condições especiais de alojamento e mostram-se interessados na qualidade dos parceiros de habitação. Afinal, alugar um espaço significa novas responsabilidades, novos compromissos e... muita independência.

Primeiro objectivo: tomar boas decisões. Uma tarefa tornada ainda mais difícil pela pressão de não falhar. Das persianas até à canalização, tudo deve ser amplamente visto e discutido. Ainda assim, tomadas todas as precauções, nem sempre o que procuramos é o que encontramos. E o pior acontece quando nos alugam «gato por lebre». Ou seja, «casa por ...barraca». Nesse momento, o estudante percebe o grau de fragilidade da sua posição.

Desta forma, mais vale prevenir. Toda a informação é um verdadeiro compêndio a ser usado. Isto, sem esquecermos as formalidades legais: um contrato de arrendamento sério, onde condições e regalias estejam devidamente contempladas.

O admirável mundo de Gonçalo

O seu nome é Gonçalo Ferreira, vive na Barra (Aveiro). Tem 21 anos e está no 2º ano de Medicina Dentária. Veio para o Porto porque «o curso é muito complexo e eu não podia ir e vir diariamente». A sua história de encontrar alojamento no Porto é, até hoje, quase perfeita. Não teve necessidade de procurar habitação: «Fui convidado por uns amigos da Barra que tinham uma espaço disponível em casa». Da decisão até à deslocação para o Porto foi um ápice: «Vim para uma casa tipo T5, grande e espaçosa. Um verdadeiro luxo!».

O preço da renda é de 170 euros/mês: «Não me queixo… há que pagar um preço pela comodidade…». Além disso, Gonçalo reconhece o valor da proximidade com a Universidade onde diariamente estuda. Por outro lado, no seu caso, não revela dificuldades em habitar com mais quatro pessoas numa mesma casa: «Esses são os que cá dormem porque, durante o dia, a minha casa é um frenesim constante de pessoas a entrar e a sair», conta, sem esconder um largo sorriso. Alguma desvantagem? «Sou um privilegiado! Até hoje, não vislumbrei nenhuma». Para já, Gonçalo prefere falar das vantagens: «Tenho aprendido muito. Por exemplo, a cozinhar. Hoje, sinto que sou muito mais desenrascado e independente».

A um passo da Universidade

Uma outra estudante de Medicina Dentária, Liliana Santos veio para o Porto há quase dois anos. O primeiro ano não foi fácil. Nessa altura, valeram-lhe os amigos. Em breve, terá a companhia do irmão, que vem juntar-se com o objectivo de se licenciar em Contabilidade pelo ISCAP. Neste cenário, «a solução foi, depois de fazer bem as contas, comprar um apartamento mesmo ao lado da Universidade Fernando Pessoa».

Com essa estratégia, «chegar à Universidade só leva dois minutos». Uma condição que, nas palavras de Liliana, «dá imenso jeito!». Quanto ao facto de habitar com o irmão, o entusiasmo já não é tão declarado: «Não é mau de todo… Aliás, estar sozinha era o que mais me custava». Melhor seria que o irmão estudasse no mesmo estabelecimento de ensino e, de preferência, no mesmo curso: «Assim, teria com quem estudar… sem sair de casa». Ainda um pouco desintegrada, Liliana explica que o apartamento é recente e os vizinhos ainda não chegaram.

A Helda tem 19 anos. A Sofia já fez 20. A primeira está em Comunicação. A segunda, em Engenharia. Em comum, têm a UFP e a naturalidade: Monte Fralães, nos arredores de Barcelos. Vieram ambas para o Porto para estarem mais próximas do local de estudo. Mas, admitem que não tiveram grande sorte nas primeiras soluções habitacionais que encontraram. O problema era o quarto que alugaram, na zona de Cedofeita: «A localização era boa e a casa não era má. Até tínhamos a serventia total». Contudo, com a senhoria a viver no andar de cima e com a presença de duas outras jovens que dividiam um segundo quarto, a privacidade nunca abundou.

A solução foi mesmo mudar de ares: «Agora estamos em S. Mamede de Infesta. Não é longe da Universidade e, além do mais, é um apartamento só para nós!». Por outro lado, consideram a renda acessível, embora tenham ainda de pagar água, luz e gás. «Nada de outro mundo», dizem. Até porque: «Agora entramos e saímos quando queremos. E isso não tem preço».

Um quarto no sétimo andar

Nelson Ferreira estuda Ciências da Comunicação é de Vila das Aves. Está no 4º ano, mas só muito recentemente decidiu vir morar para o Porto: «Precisava desta proximidade física com a Universidade». Garante que esse aproveitamento não se vê nas notas avaliativas, mas na forma como as alcança: «Não estudo tanto e ando bem mais relaxado. Ir e vir todos os dias, representava um grande desgaste». Assim, Nelson alugou um quarto num sétimo andar de um edifício já habitado por alguns amigos – uma situação que ajudou à integração no novo ambiente. O problema é a renda, que Nelson considera um pouco elevada para o seu orçamento.

O seu senhorio nunca colocou dificuldades a Nelson, ou aos seus companheiros de casa. Mas nem sempre a relação entre senhorios e inquilinos é fácil. Neste aspecto, pode encontrar-se de tudo: mais ou menos simpáticos; mais ou menos complicados; compreensivos ou não; muito, pouco ou nada exigentes. Há os que querem várias garantias, e os que não querem nenhumas; os que ajudam imenso, e os que não ajudam nada; os que se metem em tudo, e aqueles que se tornam cúmplices dos jovens estudantes.

Numa perspectiva mais legalista, há os que passam recibo, e aqueles que se ficam por um contrato verbal, evitando todas as burocracias. Mas as situações podem ser ainda mais complicadas: alguns senhorios não conseguem sequer apresentar uma licença de habitabilidade – requisito necessário para obter um subsídio de Arrendamento Jovem. Outros apresentam licenças caducadas. E ainda os que nem sequer sabem o que é uma licença. Mas há uma coisa que, aparentemente, nenhum deles esquece: a data limite para pagar a renda.

Escolas do futuro

A chuva e o frio dentro das salas de aula deixou de ser aceitável. Aliás, para a Câmara Municipal de Matosinhos, já o deixou de ser há cerca de seis anos atrás, altura em que resolveu investir três milhões e meio de euros na renovação das escolas do primeiro ciclo daquele concelho. Os primeiros resultados estão já à vista. As consequências: crianças mais felizes no ambiente escolar.

Por: Joana Pais

Há já perto de vinte anos que as escolas primárias passaram para a competência das autarquias. Neste sentido, na década de 1980, a Câmara Municipal de Matosinhos recebeu do Ministério da Educação cerca de 47 escolas que, já na altura, apresentavam uma série de problemas, sobretudo ao nível de mobiliário e material pedagógico. Quem o diz é o actual vereador da Cultura e do Ensino da Câmara de Matosinhos, Fernando Rocha. Este ex-jornalista da RTP e da Rádio Comercial afirma que há seis anos atrás, altura em que assumiu o pelouro autárquico, entendeu que «era a altura de se fazer um plano de renovação, modernização e, em alguns casos, de ampliação das escolas do primeiro ciclo do concelho de Matosinhos».

Segundo aquele vereador, as exigências de hoje são bem maiores do que as do passado, pelo que este plano se tornou imprescindível. «No meu tempo, uma escola primária era uma edifício habitualmente frio, pouco confortável, e que tinha apenas quatro salas cercadas por um recinto de terra a que chamávamos recreio e onde colocávamos duas pedras ou duas pastas que funcionavam como balizas para jogarmos futebol». Para essa altura, a situação era aceitável, diz Fernando Rocha. «Mas entretanto, e ainda bem, o país evoluiu e as exigências passaram a ser outras». Hoje, são essenciais as cantinas, bibliotecas, os ATL’s, pré-escolares, «e outro tipo de apoios, nomeadamente, a deficientes». Por estas razões tornou-se imprescindível a realização de um plano de intervenção nas escolas do concelho de Matosinhos

«Nós temos muito orgulho, eu até tenho vaidade, naquilo que fazemos»

«Um projecto único adaptado a cada uma das circunstâncias». Esta foi a filosofia com que o projecto se iniciou. Até porque as escolas envolvidas neste plano são as chamadas «escolas do plano centenário, ou seja, escolas todas iguais, típicas». No entanto, estas intervenções coincidiram também com a entrada na Câmara de novos e jovens arquitectos. Como tal, depois de criado o programa de intervenção, «deixámos tudo à livre criatividade dos arquitectos».

E apesar da constante reacção a tudo o que é novo, e da falta de confiança no trabalho de gente jovem, o programa, que está estabelecido a oito anos, tem já 75% das intervenções cumpridas. «Eu entendi que valia a pena assumir esse risco porque sei que quando comecei a minha carreira profissional, alguém também assumiu esse risco por mim», explica Fernando Rocha.

Os resultados de hoje são o reconhecimento, pelo Ministério da Educação, do melhor parque escolar do país. O vereador diz que esse reconhecimento satisfaz os envolvidos, «não por questões do ego, mas porque ao ter um bom parque escolar se está a oferecer boas condições de acesso à educação».

A escola do futuro, nome que a autarquia deu à «revolução» do seu parque escolar, conta já com novas tecnologias fundamentais à sociedade da informação. Nesta medida, Fernando Rocha diz ser «quase risível» a promessa do Governo de colocar ligação à Internet em todas as escolas, quando já lá vão seis anos desde que Matosinhos pensou nisso. Aliás, motivos de orgulho não faltam. A Rede Nacional de Bibliotecas Escolares, projecto a que Câmara também aderiu, fornece igualmente motivos de vaidade à autarquia, pelo facto de ser «em termos relativos, e em termos absolutos, aquela que mais bibliotecas tem integradas». Existem, em Matosinhos, 21 bibliotecas escolares «com todos os equipamentos, e não apenas estantes com livros».

«Nós temos dinheiro suficiente para fazer bem as coisas»

Embora de 47 tenha passado, actualmente, a 42 escolas, a Câmara de Matosinhos teve, obviamente, de estabelecer prioridades. Fernando Rocha afirma que «todas as escolas precisavam de intervenções, umas mais, outras menos. Mas tivemos de atacar primeiro as que estavam num pior estado de degradação». Aliás, o vereador confirma ainda que «quem está na vida pública e na política sabe que tudo é uma questão de estabelecer prioridades».

Depois de três milhões e meio de euros investidos pela Câmara Municipal de Matosinhos na renovação do seu parque escolar, os resultados começam a estar à vista e a agradar aqueles que os observam. Apesar do próprio Fernando Rocha assumir que a Câmara «não está a nadar em dinheiro», a verdade é que «temos o dinheiro suficiente para fazer bem as coisas». No entanto, todo o orçamento tem de ser muito bem gerido para que todos beneficiem dele.

Nesta medida, foi estabelecido um programa concreto para cada uma das escolas, «em função das necessidades, e projectando o futuro». Não obstante, dele constam ainda três componentes transversais: «Têm de ter sempre uma cantina, um polivalente para a educação física e uma biblioteca». Quanto ao número de salas, esse «vai depender do estudo da população e da previsão da população estudantil». Relativamente ao pré-escolar a tendência é a exactamente a mesma, o número de salas a ele dedicado varia consoante os resultados da investigação feita previamente.

Mas há outras particularidades definidas antecipadamente, «nomeadamente ao nível de materiais», diz Fernando Rocha. As escolas estão equipadas com mobiliário de alta qualidade, embora o arquitecto responsável tenha a possibilidade de optar pelos materiais que entender, dentro dos limites da lei. Aliás, uma visita às escolas de Matosinhos abrangidas pelo programa prova a diversidade estética resultante da capacidade de decisão do arquitecto.

Afinal, ir para as aulas pode ser divertido

As escolas degradadas, onde chovia e não havia aquecimento, parecem outras. Além das modernizadas, alguns edifícios foram construídos a partir do zero. O casaco, agora, pode ficar à porta da sala de aula, uma vez que o aquecimento central está em funcionamento. O chão já não é de cimento, mas sim de taco. Os computadores estão ligados e os livros disponíveis na biblioteca.

«As pessoas estão habituadas àquela escola primária que é um edifício, normalmente branquinho, com uma porta de cada lado, duas janelinhas, e um recreio à volta», diz o ex-jornalista, agora vereador. As novas componentes arquitectónicas e a componente lúdica que os arquitectos tentam incutir nas instalações, são extremamente vantajosas para aqueles que frequentam as escolas.

A Escola Nogueira Pinto, situada em Leça da Palmeira, é um dos exemplos já terminados deste programa da Câmara Municipal, cuja renovação é, aos olhos da maioria, abismal. Inicialmente a escola contava apenas com um edifico que datava já dos anos 1950. Para além da chuva nas salas de aula, das casas de banho degradadas e sem os requisitos mínimos de higiene, e da água nos quadros eléctricos, a situação ia-se remediando. No entanto, ir para a escola era um autêntico martírio, quer para os alunos, quer para os próprios professores. Mas tudo mudou desde Dezembro passado, data da inauguração da escola requalificada.

Guilherme Machado Vaz foi o arquitecto que, com 700 mil euros, tornou a escola num sítio agradável de estar. Preocupado em «não perder a identidade original do edifício já existente», o arquitecto teve de arranjar espaço para construir o que faltava sem retirar recreio às 120 crianças que lá estudam. Neste sentido, foram erguidas duas novas edificações em pontos estratégicos para dar lugar a uma cantina e polivalente, a uns balneários, a novas casas de banho, incluindo uma para deficientes, a uma biblioteca, e a uma sala de professores.

Num ano e meio criaram-se ali novas infra-estruturas que todos agradecem. Por exemplo o André, da quarta classe, que era alérgico ao giz, está todo contente porque já pode ir ao quadro que não é de lousa. Para além do aquecimento central, o outro pormenor mais referido é o chão do recreio. Guilherme Vaz preocupou-se em aplicar um pavimento de borracha por emulsão que julga que «as mães vão agradecer porque vão acabar as calças rasgadas nos joelhos e, se calhar, diminuirão as cabeças rachadas». Mas as próprias crianças estão felizes com aquele chão que «não magoa», como confirma o Duarte, também da quarta classe. Contudo, o Pedro, da mesma turma, só tem pena de não poder jogar futebol porque as professoras dizem que «o chão e as paredes não são para estragar».

O António concorda com a professora Fernanda Barros ao dizer que a Escola Nogueira Pinto, agora, «tem mais espaço e mais condições para aprender». Lamenta, no entanto, assim como o Duarte Barros, só lá ficar mais um ano. Ao que parece, o vereador estava certo ao afirmar que «há muito maior probabilidade de uma criança ser feliz numa escola simpática, numa escola bonita, numa escola que lhe dê conforto»!

Associação de Albergues Nocturnos do Porto

No Porto, existem três associações de Albergues Nocturnos do Porto (AANP). A mais recente das facções pertence à Santa Casa da Misericórdia. O seu objectivo é simples: recolher pessoas por caridade, para pernoitar.

Por: Ana Pinheiro

A Associação existe desde o dia 1 de Dezembro de 1881, tendo sido fundada por D. Luís I, e funciona na rua dos Mártires da Liberdade, no Porto. Hoje, trabalha em parceria com o Albergue Nocturno de Campanhã. O espírito é de complementaridade: em Campanhã, servem-se almoços; as outras refeições são feitas em Mártires da Liberdade, onde também é possível desenvolver terapias ocupacionais para os interessados.

Nestes albergues, os sem-abrigo têm direito a regalias individuais como pijama, toalha e conjuntos de higiene. Na instituição, eles podem jantar, dormir e tomar o pequeno almoço. Tudo isso durante um período de três meses. «Ao fim desse tempo, é óbvio que não os vamos mandar embora...! Alguns estão connosco há mais de um ano», confessa-nos José Luís Costa Mendes, presidente da AANP.

«Desde 1998, temos uma equipa espectacular de reinserção social que faz a triagem diária. Uns são voluntários, outros são estagiários da Universidade Fernando Pessoa. O grupo inclui uma socióloga, duas assistentes sociais, duas psicólogas e uma médica», diz Costa Mendes. A entrada é das 18 às 20 horas, e todos passam pela Assistente Social, Psicóloga e Médica. Quer venham apenas para jantar, ou por uma noite, e nunca mais voltem.

No albergue, a limpeza e a organização, são evidentes. «Como sabem, aqui entram os sem-abrigo. Exigimos o máximo de limpeza. Todos os meses temos uma equipa de desinfecção. Todos os cuidados são poucos!» esclarece Costa Mendes.

Contudo, a pensar noutro tipo de necessitados, o Albergue está igualmente associado a uma Residência Universitária. «Foi a pensar nos estudantes. Muitas vezes, para além de virem para uma cidade desconhecida, vivem em condições miseráveis e sujeitam-se a pagar um preço alto. Tendo instalações, fizemos obras e abrimos uma Residência Universitária, com dois quartos individuais, três duplos, uma sala, cozinha equipada e casa de banho. Os 150 euros que os estudantes pagam mensalmente incluem água e luz. Só pagam o gás», afirma Costa Mendes.

Cinco andares de conforto

No rés-do-chão do Albergue, fica a cozinha, dona duns tachos enormes e brilhantes. Enquanto o presidente espreita para dentro de deles e investiga - «Deixa cá ver o que vai ser o jantar...» - eu dou por mim na sala de jantar. «Recebemos diariamente cerca de 55 homens, 10 senhoras, oito mães com crianças, e dois casais», explica Costa Mendes.

O primeiro piso do edifício fica a sala de espera, o Gabinete de Reinserção Social e o Gabinete da Direcção. Nos restantes três pisos encontramos os quartos (com cerca de 114 camas), todos equipados com armários individuais e casas de banho. Nas águas furtadas pernoitam as mães, os bebés, e os casais. Nesse espaço existe uma cozinha equipada. «A maior parte das mães e dos bebés que aqui pernoitam vêm da APAV – Associação Portuguesa de Apoio à Vítima», refere Costa Mendes.

«Quais são os apoios que têm?» - a pergunta pareceu-me inevitável, constatando o esforço financeiro que deve ser dispendido.«Felizmente, temos benfeitores: os sócios e a Segurança Social, que fornece 60% dos custos estimados. Mas este é um acordo atípico... Depois, temos parcerias informais com o Hospital Maria Pia (que nos fornece camas e carrinhos de bebé), com o Hospital de S. João, o de Santo António, o Magalhães Lemos», explica o presidente.Prosseguimos a visita guiada. «Como vê, tem aí um balcão de self-service, mas alguns, por vezes, chegavam tão drogados ou embriagados que acabavam por entornar, no percurso que vai do balcão até à mesa, tudo o que ia no tabuleiro. Optámos por colocar o pessoal da casa a servir as refeições», diz, sorrindo, o presidente do Albergue.

Nas traseiras do edifício, existe um grande quintal. «Já foi cultivado por um indivíduo que andava fugido das autoridades. Um dia, a polícia bateu-nos à porta e ele fugiu. Nunca mais soubemos dele», diz Costa Mendes. No piso térreo, há ainda uma despensa cheia de vitaminas para os sem-abrigo e um compartimento dividido entre a lavandaria e uma sala de roupa.

Santos da casa que fazem milagres

O padroeiro do albergue é Santo António. «Milagreiro!», remata Ana Rosa, a funcionária mais antiga do albergue, com 40 anos de trabalho. «Até há alguns anos, esta casa era o único albergue da cidade do Porto. Na noite de Natal, enchia. Já não havia camas. Num desses anos, quando damos por ela, não havia pão. Num acto de aflição, virei-me para o nosso Santo António, e disse-lhe: "Tantas pessoas que querem comer esta noite! tenho sopinha, mas não tenho pãozinho para lhes dar!". Passados cerca de dez minutos tocaram à porta: era uma carrinha com sacos de pão!», recorda Ana Rosa.

Esplendores e misérias

No albergue é preciso chave para tudo. «Mesmo assim, alguns sem-abrigo ainda nos conseguem roubar, arrombando portas. Viu o micro-ondas lá em cima? Já não têm conta os que foram roubados e qual a solução para não os roubar!» diz, com evidente tristeza.

Há cinco anos que Elsa é empregada de limpeza nesta associação. Já teve o céu como tecto. Acabou ficando por ali: «Não quero falar no passado», disse em tom sério. «Adoro trabalhar aqui. Faço o horário normal, e vou dormir a Campanhã». Adora as pessoas com quem trabalha e as que visitam o albergue: «Agora vêm cá mais pessoas jantar, desde que fechou o centro ‘Coração da Cidade’. A comida lá era muito boa», confessou, mas sem adiantar mais conversa ... tinha de ir comprar pão.

Goretti Almeida, está neste albergue há quatro anos, como responsável permanente. «Durante 24 anos trabalhei como despachante. Mas a profissão entrou em extinção e fui despedida. Perguntaram-me se queria vir trabalhar para aqui. Não hesitei e, até hoje, não me arrependo». Uma lágrima corre-lhe pelo rosto, antes de finalizar: «Adoro o que faço!».

Um testemunho sem-abrigo

Muitos sem-abrigo andam fugidos da polícia, outros, não gostam de falar com desconhecidos. São indivíduos que, por vezes, até fogem de si próprios. Paulo Guimarães, 29 anos: «Trabalho nas obras, mas torci um pulso e agora não faço nada», riu-se, e acendeu um cigarro. Paulo frequenta o albergue porque os pais vendiam droga em casa: «Esse modo de vida nunca acaba da melhor maneira. Eu bem avisava, não me ligavam nenhuma. Até que, um dia, foram presos e a casa foi apreendida». Paulo levantou-se, disse que regressaria para continuar a conversa. Nunca mais o vi.

Mulheres: o sexo (cada vez)mais forte

As mulheres constituem, hoje, a maior parte da população portuguesa. Estão a tornar-se o sexo mais numeroso na estatística das pessoas com formação académica superior. Mas continuam a ser discriminadas. Os números das organizações laborais dizem que são raros os casos de mulheres nos quadros superiores, ou em lugares de poder. Mas essas mesmas entidades revelam que a situação tem evoluído para um cenário mais igualitário.

Por: Sérgio Pires

O papel das mulheres na sociedade portuguesa tem-se alterado substancialmente nas últimas décadas. No período pós-25 de Abril, as mulheres portuguesas começaram a conquistar novos espaços sociais. Logo a seguir à revolução de 1974 houve um conjunto de alterações legislativas significativas, como a lei do divórcio, a generalização do voto a todas as mulheres em todos os actos eleitorais, ou o abandono da premissa da inferioridade da mulher solteira ou casada perante o pai ou o marido. Essas alterações legislativas assumiram, constitucionalmente, o princípio da igualdade e da não-discriminação. No entanto, em muitos casos, não foi pensada nenhuma estratégia para atingir essa situação de igualdade.

Como refere Inês Machado Pereira, membro de um grupo de trabalho ligado ao partido Bloco de Esquerda, «as grandes conquistas das mulheres situam-se, sobretudo, na área da criação de legislação, apesar das estratégias para a sua aplicação não terem sido pensadas atempadamente». Exemplo disso mesmo é o papel que as mulheres têm vindo a ocupar, por exemplo, no mercado de trabalho: uma situação que é, muitas vezes, fruto de uma situação de necessidade financeira. Teresa Toldy, do Centro de Estudos de Antropologia Aplicada da Universidade Fernando Pessoa, concorda com esta visão: «O trabalho das mulheres é actualmente muito importante para o agregado familiar».

No entanto, importa ressalvar que entre as gerações mais novas, começa a ver-se uma inversão deste modelo de pensamento. Para Teresa Toldy, «a presença da mulher começa a sentir-se mais em áreas que antes estavam reservadas a homens. Por outro lado, estes não têm o protagonismo que deviam ter nas famílias, dentro de casa e na educação dos filhos. E convém sempre referir que os homens não sentem tanto a dificuldade de conciliar a carreira com a família».

A vez e a voz delas

As organizações feministas têm dado voz às mulheres que dizem lutar por uma sociedade mais igualitária. Contudo, existem também movimentos que quase se caracterizam por serem um «machismo invertido». Apesar desta dicotomia, Inês Pereira considera que as organizações feministas têm um papel essencial no processo emancipador. Na sua opinião, as teorias feministas são extremamente vastas e transportam consigo a preocupação com muitas outras formas de discriminação: «Não se limitam a pensar em termos de género, mas analisam a sociedade como um todo, à luz do princípio da igualdade, da emancipação das oprimidas e do respeito pela pluralidade e diferença».

Que pensam eles?

Que opinião têm os homens sobre a emancipação das mulheres? Inês Pereira tem uma opinião: «Há um grande desconhecimento, tanto da parte dos homens como das mulheres, sobre a história do processo da emancipação feminina. Uma visão que creio ser mistificada e estereotipada». Na sua perspectiva, «analisando atentamente os dados sobre as relações entre homens e mulheres, em casa, na política, no trabalho, na cultura, e na religião, é relativamente fácil verificar-se uma desigualdade gritante mascarada sob a capa de uma igualdade legal muito poucas vezes aplicada», sublinha Inês Pereira. Uma desigualdade que, frequentes vezes, passa despercebida para muitos.

A cultura patriarcal

Em Portugal as mulheres têm ainda um longo caminho a percorrer para que a sociedade tenha níveis de igualdade sexual aceitáveis. Para as activistas feministas, é necessário continuar com o processo de discriminação quotidiana, bem como com a partilha das tarefas domésticas. Para Inês Pereira é ainda necessário sair do âmbito da igualdade legal e do politicamente correcto. De acordo com Teresa Toldy, o principal é que vivamos melhor, não querendo substituir uma cultura patriarcal por uma cultura feminista.

Como se faz um jornal em

Fazer jornalismo de imprensa exige, cada vez mais, uma rápida adaptação às novas ferramentas tecnológicas ao dispor dos jornalistas. Estivemos nas Redacções de três jornais diários do Porto, à procura do mito do fecho das edições. Descobrimos, na nossa passagem pelo "Jornal de Notícias", "Público" e "O Primeiro de Janeiro", que hoje o desafio é usar a tecnologia para trabalhar em rede.

Por: Carlos Duarte

A chegada de Jorge Sampaio ao Porto estava prevista para as oito horas da noite, mas o assessor de imprensa do Presidente da República acaba de comunicar que o chefe de Estado português não conseguirá aterrar no Aeroporto Francisco Sá Carneiro antes das 22 horas. Mudança de planos na redacção do "O Primeiro de Janeiro", não há tempo a perder quando o jornal não pode entrar na gráfica depois das 22 horas. A página reservada à visita de Jorge Sampaio dá lugar a ‘matéria congelada’, uma das expressões escutadas em todas as redacções. Ou seja, notícias mais resistentes à actualidade que são guardadas para socorrer a situações de falta de informação.

À medida que a noite avança, muitas das notícias do jornal do dia seguinte que pareciam definitivas deixam de o ser. Os planos das redacções alteram-se quando, à última hora, acontecimentos imprevistos impõem novos ajustamentos ao jornal. Dezenas de televisões distribuídas pela redacção do "Jornal de Notícias" (JN) começam a dar as primeiras imagens do ataque terrorista ao consulado inglês em Istambul, Turquia.

Os jornalistas, ocupados que estão com a conclusão dos seus textos, prestam pouca atenção às imagens de destruição. Começam, no entanto, os primeiros contactos do director adjunto do "JN", Alfredo Leite, para aumentar o número de páginas da edição do dia seguinte. Explica-nos que não consideram relevante enviar alguém para a Turquia uma vez que têm lá «bons contactos» e porque o repórter não chegaria em tempo útil.

Alfredo Leite é um dos quatro ‘reporters’ e dois fotojornalistas que podem cobrir cenários de guerra pelo "JN". O trabalho já o levou algumas vezes até à Turquia e, por isso, entre os seus contactos constam alguns dos portugueses mais importantes daquele país muçulmano. Sobre as imagens do atentado terrorista ao consolado inglês, Alfredo Leite alerta: «Temos que esperar um bocadinho… as primeiras informações são sempre contraditórias, pode ser um carro bomba ou outra coisa qualquer».

Uma Redacção deve estar preparada para dar resposta a estas situações imprevisíveis. Só as notícias mais recentes interessam aos leitores. São 19 horas e estamos em plena ‘hora de ponta’ no "JN", que é comum prolongar-se até à uma hora da madrugada.

Leitura crítica

Os conteúdos do jornal começam a ser planeados um dia antes. O "Público" faz a sua primeira reunião do dia por volta da 13 horas. Amílcar Correia, subdirector, e os editores sentam-se à mesa para fazer uma «leitura crítica» do jornal que está nesse dia nas bancas e pensar a edição do dia seguinte. Como nos diz José Augusto, editor da secção Minho, muitas das matérias dos jornais são previsíveis porque já estão agendadas.

O "Primeiro de Janeiro" tem métodos de trabalho muito semelhantes. É ao início da tarde que os editores e a directora indicam quem faz a cobertura de determinado evento em agenda. «Nesta altura já sabemos quais serão as linhas mestras da edição», afirma o editor Paulo Maia. Uma das três chefias, pelo menos, deve estar na Redacção durante a manhã para dar resposta a algum imprevisto.

Por esta altura já é possível decidir que textos preenchem cada página da edição que vai estar à venda no dia seguinte. «Se tivermos uma história da nossa região, é a história que prevalece. Um tema regional prevalece sempre sobre um tema nacional, salvo raras excepções», conclui Paulo Maia, editor do "Primeiro de Janeiro", jornal decano da imprensa regional.

O dia começa mais cedo no "JN". Às onze horas da manhã, a direcção, os editores (fotografia, infografia e direcção de arte) e os coordenadores elaboram o primeiro plano de páginas do dia, que tem em conta as quatro edições regionais do "JN": Nacional, Minho, Centro e Sul. A reunião é partilhada pela redacção de Lisboa em sistema de vídeo-conferência.

O plano de páginas provisório para o dia seguinte é elaborado ao fim da tarde. Por volta das 19 horas, Alfredo Leite, director adjunto do "JN", convoca o editor de fotografia e o editor de arte para a «reunião da primeira», em que se decide o tema da primeira página do dia seguinte e «como as restantes páginas serão orientadas». «Às vezes tem que se alterar os planos às nove horas da noite, é raro e traz muitas dificuldades», afirma Alfredo Leite.

Piquetes de serviço

Grande parte dos jornalistas da redacção do "Primeiro de Janeiro" só aparece à tarde, a não ser que tenha trabalho de manhã. Até às 18 horas anda-se a «velocidade de cruzeiro», mas com o passar das horas, a correria aumenta no exíguo espaço deste diário regional criado em 1868. É a única redacção que, em parte, ainda está organizada por secções, como antigamente. O desporto está num andar e as secções principais noutro, à face da rua.

Pelo contrário, no "JN" é de manhã que os jornalistas tratam dos temas locais. Durante a madrugada, há sempre piquete de serviço: um editor, um redactor e um fotojornalista no Porto e outro em Lisboa.

Os jogos de futebol, normalmente ao domingo, aumentam o ritmo de trabalho do "Primeiro de Janeiro" e do "JN". Esse é, no entanto, o dia mais calmo no "Público", tão calmo que alguns jornalistas até levam os filhos para a redacção. A paginação do "Público" é partilhada pela redacção de Lisboa e Porto. Todos os dias, cada redacção distribui, entre si, determinadas páginas do caderno principal. Além disso, a redacção do Porto ainda faz a paginação dos cadernos das edições do Minho, Norte e Centro e do suplemento "Fugas". Quinta-feira é o dia mais movimentado porque é o dia de fecho do "Fugas", suplemento de viagens que sai ao sábado.

Desafios de paginação

Cada jornal utiliza um método de paginação diferente. O "JN" recorre a um complexo sistema editorial composto por 400 páginas modelo. Dependendo do texto, é escolhido um formato de página, os paginadores podem sugerir alterações aos modelos, mas as excepções são sempre da responsabilidade do director de Arte. Uma das vantagens do sistema editorial utilizado pelo "JN" é que permite alguma flexibilidade: durante o dia, o plano de páginas pensado de véspera já foi alterado inúmeras vezes.

São 19 horas e o telefone continua a tocar no gabinete do director adjunto do "JN", Alfredo Leite: o departamento comercial está a negociar um importante contracto de publicidade. Até porque ninguém desvaloriza a sua importância. Amílcar Correio, subdirector do "Público", diz seguir o «modelo industrial» em que as páginas são pagas pela publicidade. Alfredo Leite, director adjunto do "JN", explica que as páginas são decididas em função dela: «não se pode perder publicidade». Chama «páginas brancas» às dedicadas à publicidade. Enquanto Paulo Maia, do "Primeiro de Janeiro", entende que seja necessário fazer alterações «dependendo dos contratos».

Paulo Maia dá muita importância ao aspecto gráfico do "Primeiro de Janeiro". Desde há um ano que este jornal regional adoptou um sistema de pré-maquetas, com algumas semelhanças ao "JN". O editor de serviço escolhe o modelo que os paginadores vão utilizar, todas as ordens são dadas através de uma rede local. «Muitas vezes temos que ser fiéis ao modelo que temos e não o podemos descaracterizar o grafismo», afirma o editor do "Primeiro de Janeiro".

No "Público" não se utiliza tanta tecnologia na paginação. O manual de desenho do "Público" e do "Fugas" estão sempre à mão dos paginadores caso surjam dúvidas na concepção de determinada página. José Soares, paginador do "Público", diz que no início havia alguma dificuldade em seguir as normas gráficas do manual de desenho, mas que hoje quase só se utiliza em casos raros de dúvida. Tanto o aspecto gráfico do "Público" como do suplemento "Fugas" foram desenvolvidos pela Bega Comunición, uma empresa desenho gráfico da cidade catalã de Barcelona.

Analógico ou digital?

O "JN" e o "Público" estão em lados opostos na utilização da tecnologia. Enquanto o "JN" só utiliza equipamentos digitais, o "Público" ainda utiliza os tradicionais analógicos. Amílcar Correia, subdirector do "Público", explica que «quando o jornal surgiu era totalmente inovador, hoje não é tanto assim». Há dois anos ainda adquiriam um complexo programa informático de base de dados que funciona em conjunto com os programas tradicionais de paginação, mas tem sido consecutivamente adiada a sua entrada em funcionamento.

No "Primeiro de Janeiro", quase toda a fotografia é feita em máquinas digitais, à excepção da revista de domingo, mas por opção. Manuel Roberto, fotógrafo do "Público", justifica a falta de equipamento digital: «Isto é muito democrático!».

Alfredo Leite, do "JN", considera que em jornalismo nunca se deve abrandar porque «todos os dias» surgem novas tecnologias. Num esforço de actualização permanente, é visitante regular das maiores feiras internacionais do sector tecnológico. Explica-nos que «em três anos tudo mudou» nas ferramentas de trabalho ao dispor dos jornalistas do "JN", diário portuense do Grupo Lusomundo. Hoje todos os jornalistas do "JN" podem andar pelo país com máquinas fotográficas digitais ou computadores portáteis.

Toda a Redacção do "JN" está ligada em rede. Os jornalistas podem escrever directamente na página do jornal e o editor acompanhar essa escrita. Mesmo quando estão num cenário de guerra, é possível às chefias acompanharem os trabalhos na redacção como se lá se encontrassem presencialmente.

No "Público", «ninguém dos gráficos reenquadra uma fotografia sem falar com a secção de fotografia», garante Manuel Roberto, acrescentando que os editores entendem que os editores de fotografia têm as suas competências próprias.

A pressão sob a secção de fotografia vai aumentando à medida que os paginadores vão pedindo as fotos para paginar os textos. Todos os jornais possuem um arquivo digital próprio, mas ainda estabelecem contractos com as agências de notícias que lhe fornecem fotografias.

Escolher as fotografias é uma tarefa de enorme responsabilidade, entende Manuel Roberto: «Temos que ter cuidado com as coisas que fazemos porque um erro pode pôr em causa as instituições». Paulo Maia, editor do "Primeiro de Janeiro", corrobora esta ideia e afirma que é importante «saber qual a imagem para inserir no texto que temos», entendendo que deve ser essa a função da Semiótica nos cursos de comunicação.

À última hora, é necessário encontrar a fotografia certa, o tempo é sempre escasso. É normal ouvir a pergunta: «É ao alto ou ao baixo?».

A etapa final

O trabalho dos jornalistas acaba a partir do momento em que a paginação é enviada para a gráfica. O "JN" é o jornal com o processo de impressão mais sofisticado. A primeira versão a entrar na máquina é destinada a ofertas, assinaturas ou aviões, mas é possível actualizar as notícias nas edições seguintes. Da mesma forma que são obrigados a mudar os planos de página inúmeras vezes ao dia, também as máquinas da gráfica chegam a parar para alterar determinada notícia.

A impressão do jornal não pode, contudo, atrasar-se senão a distribuição sai prejudicada. As únicas excepções são as edições especiais, mas, mesmo essas, nunca acontecem mais de duas ou três vezes ao ano.

Instrumentos dos jornalistas em cenário de guerra

Computador portátil - É um dos objectos mais preciosos para o repórter e nunca o deve abandonar. Por isso, quanto mais pequeno melhor. Os novos e pequenos "Tablet PC" são os mais cómodos. Para libertar espaço em disco, devem estar munidos de gravador de CD para arquivo das fotografias.
Telefone satélite - O mais pequeno de todos, o Thuraya, é o mais usado pelos jornalistas. Idêntico a um telemóvel, funciona com o vulgar cartão SIM em rooming e acciona de imediato um satélite assim que o sinal de uma operadora móvel falha. Não pode ser usado no sul de África nem no continente americano. Permite ligar o PC à internet e pode ser carregado através de um painel solar portátil. Mais recentemente, é usado o Bgan, modem da rede Inmarsat que permite aceder à internet via satélite a velocidades idênticas à netcabo ou adsl.
Bússola - Além de auxiliar a navegação pessoal, serve também para a orientação correcta do telefone satélite.
Lanterna - Pequena, para poder ser carregada a toda a hora. Deve ainda usar-se uma lanterna para fixar à cabeça, de forma a libertar totalmente as mãos em caso de necessidade. Uma luz para o PC, alimentada através de uma porta USB, é bastante útil para o caso de ser necessário escrever às escuras.
Cabos diversos - Para alimentação dos aparelhos e ligação a um computador remoto, caso seja necessário transferir ficheiros.
Cabo de segurança - Amarra o PC a um objecto pesado. Ideal para zonas de pouca segurança.
Kit de canivete suíço - Preso ao cinto para ser usado a qualquer momento, o canivete multifunções deve dispor de bússola de recurso, mini lanterna, pilhas, espelho reflector, relógio, pastilhas purificadoras de água e pensos rápidos.
Colete e capacete à prova de balas - É dos objectos mais detestados pelos repórteres. São incómodos, pesados e quentes. Mas podem salvar vidas. Os mais eficazes são fabricados em "Kevlar" com pratos frontais e traseiros para um índice de protecção IIIA, equivalente aos usados pelos militares.
Carregador multiusos - Liga-se ao isqueiro do carro e permite carregar praticamente todo o equipamento, desde o PC às baterias da máquina fotográfica, ou mesmo os telefones móvel e satélite.
CDs com software - Todos os programas usados no PC devem ser carregados para o caso de ser necessária a sua reinstalação.
CDs virgens - Para gravação de fotos e consequente libertação de espaço no disco do PC.
Fita gomada - Deve usar-se várias cores, sobretudo para identificar as viaturas da imprensa.
GPS - Aparelho de navegação que permite saber sempre as coordenadas de posição até nas regiões mais remotas.
Gravador digital - Funciona com um gravador convencional de repórter, mas permite baixar ficheiros (uma entrevista, por exemplo) e enviá-los para a Redacção através de correio electrónico.
Talheres - Para usar se não se for absolutamente obrigado a cumprir os costumes locais (em muitas regiões do Médio Oriente come-se com as mãos).
Luvas de alta resistência - Servem para trocar um pneu de um veículo, mas também podem ser usadas para remover arame farpado ou outros objectos que por vezes os militares deixam espalhados nas estradas.
Mapas - Sempre que possível, acompanhar-se de mapas o mais detalhados possível.
Saco de dormir - Para situações de improviso um saco de dormir ultra ligeiro.
Monóculo e altímetro - Do tamanho de meio maço de tabaco, o monóculo Minox é também altímetro, termómetro e relógio. Serve para observar movimentos distantes sem chamar a atenção.
PDA e teclado portátil - Serve de "back up" para uma eventual avaria do PC. Extremamente portátil, permite escrever textos ou mesmo visualizar fotos em "compact flash card".
Kit de primeiros socorros - Além de um conjunto de medicamentos básicos, deve ainda conter um termómetro e vários conjuntos de seringas e agulhas, instrumentos geralmente em falta nas zonas em conflito.
Venda - Útil para tapar os olhos para um sono diurno. Muitas vezes, com a diferença horária, o jornalista é obrigado a trabalhar de noite e a dormir durante o dia.
Telemóvel - Inútil nas zonas remotas até há uns anos, o telemóvel é cada vez mais usado em zonas desertas. No Iraque, por exemplo, há antenas GSM de curto alcance junto às unidades das forças da coligação.
Tomadas de corrente - Conjunto universal de tomadas de corrente eléctrica.
Tomadas de telefone - Conjunto de tomadas para ligação do telefone fixo ao modem do PC. Alguns cabos, incluindo um com ligação por crocodilos, são muito úteis.
Ventosa de gravação - Liga ao gravador portátil para a gravação de uma declaração em circunstâncias em que se torna difícil tomar notas num bloco (por exemplo, a circular numa estrada).
Fonte: Alfredo Leite, JN

O que pensam os pescadores da Póvoa sobre o Acordo Ibérico de Pesca

A nossa costa e os nossos pescadores já viveram melhores dias. O futuro deixa adivinhar ‘marés’ ainda mais negras.

Por: Susana Fonseca

A crise que afecta o sector das pescas em Portugal já não é de hoje. Póvoa de Varzim e Vila do Conde são duas cidades costeiras com uma grande comunidade piscatória que vive dias bastantes difíceis. Se alguns pensavam que esta fase iria ser passageira, mudaram de opinião após o Acordo de Pescas estabelecido entre Portugal e Espanha.

O acordo entre os dois países foi alcançado no passado mês de Outubro depois de vários meses de negociações. O seu articulado prevê a entrada de mais 32 barcos espanhóis na nossa costa, que se juntarão às actuais 101 embarcações. Contudo, Portugal também poderá pescar na costa espanhola com mais 33 embarcações. Ou seja, passará de 100 embarcações para 133. Deste modo, ambos os países igualarão o número total de embarcações a operar nas respectivas costas.

Um acordo inevitável

Isabel Costa Leite, docente de Estudos Europeus na Universidade Fernando Pessoa, afirma que «este acordo foi necessário por se tratar de um sector muito sensível para Portugal. Como sector primário e país membro com maior Zona Económica Exclusiva (ZEE) da União Europeia era fundamental encontrar um acordo entre os Estados envolvidos».

Contra as críticas que se ouviram de diversos factores, para aquela docente, Portugal é quem mais beneficia com este acordo, se compararmos com o anterior protocolo, datado de 1986.
Nesse anterior acordo, a Espanha pescava em Portugal com mais uma embarcação do que o inverso. Isabel Costa Leite acrescenta ainda que «este acordo resultou da determinação do Governo português, apoiado pelos organismos representantes do sector das pescas, em não permitir a aplicação dos princípios de liberalização pretendidos pela Comissão Europeia. A solução teria, necessariamente, que passar por um acordo bilateral entre Espanha e Portugal».

Pescadores revoltados

Os principais afectados com este acordo são os próprios pescadores que transmitem revolta e desespero. Manuel Moça, um dos muitos pescadores poveiros, considera este acordo «muito mau», acrescentando que «muitos pescadores terão que abater os seus barcos, porque se a crise já é grande, com a entrada de mais 32 barcos espanhóis os problemas vão realmente aumentar».

Falta fiscalização

Todos sabemos que muitas espécies piscícolas estão em extinção, mas o que não sabíamos era que brevemente poderiam desaparecer para sempre das nossas águas. E dos nossos pratos.

Os pescadores portugueses acusam os espanhóis de não respeitarem as leis comunitárias. Dizem que se não houver uma fiscalização eficiente os pescadores do nosso país vizinho «começarão a pescar na nossa costa indiscriminadamente». Os portugueses também acusam os espanhóis de não respeitarem a altura de reprodução de alguns peixes, especialmente a sardinha, e acrescentam que, na sua captura, os colegas espanhóis utilizam meios ilegais.

Mas as acusações não ficam por aqui. Um pescador desabafou, em tom revoltado: «Andamos nós anos e anos a tentar proteger os nossos recursos para virem eles, agora, tirar proveito».

Pescadores sem Sindicato

Como em todos sectores, os trabalhadores da pesca também têm um Sindicato que os representa, no entanto, os pescadores poveiros estão em vias de ficar sem o seu. Uma situação que ninguém sabe explicar. Nem mesmo um responsável do sindicato que, igualmente, se recusou a comentar o Acordo Ibérico de Pesca.

Apesar da vizinha Póvoa estar mal representada sindicalmente, Vila do Conde tem um sindicato bastante organizado. Um dos seus representantes mostrou-se bastante desiludido com o acordo obtido pelo Governo de Lisboa: «Nunca poderia ser a favor deste acordo, pois ele prejudicará todos aqueles que tiram os seus rendimentos através das pescas».

Procuramos saber ainda qual a opinião do Sindicato dos Trabalhadores de Pesca do Norte, em Matosinhos. Augusto Teixeira, presidente adjunto dessa organização sindical, teme os efeitos do acordo: «As consequências serão muitas, porque as pescas já não estão grande coisa. Há pouco peixe e com a entrada dos pescadores espanhóis nas nossas águas, a situação vai piorar. Assim como o nível de captura dos nossos barcos irá diminuir drasticamente».

Para Augusto Teixeira, os nossos vizinhos estão interessados, essencialmente, na nossa sardinha, «que é a melhor do mundo». Na sua opinião, quando brevemente entrarem na nossa costa, com barcos mais modernos e mais bem equipados, os pescadores espanhóis actuarão indiscriminadamente, não respeitando sequer a paragem biológica. Esta paragem é feita na pesca do cerco (sardinha) e tem como objectivo proteger a espécie na altura da sua reprodução. O desrespeito por esta regra básica tem sido motivo de conflito entre portugueses e espanhóis.

O responsável do Sindicato dos Trabalhadores de Pesca do Norte refere, ainda, o contraste da nossa frota em relação à espanhola: «A frota espanhola é das mais poderosas do mundo, estão muito mais bem equipados do que nós..., vai ser muito difícil fazer frente às suas traineiras». Por isso, critica o facto de o desenvolvimento económico e tecnológico não ter sido considerado neste acordo. E quando lhe perguntamos por soluções para esta «maré negra», a resposta foi curta e directa: «Não tenho soluções».

Visionarium

As perguntas são antigas: Como evoluiu a vida na terra? Qual será o meu peso em Marte ou em Plutão? Quanto pesa o meu cérebro? O avião é tão pesado, transporta tanta gente, como é que ele consegue voar? Será que o meu peso da Terra é igual ao da Lua? A resposta a muitas destas questões pode ser encontrada em Santa Maria da Feira… no Visionarium.

Por: Ana Pinheiro

Ciência é sinónimo de conhecimento certo e racional sobre a natureza das coisas. No Visionarium, pretende-se mostrar algumas das facetas desse conhecimento, num complexo de artefactos interactivos e facilmente compreensíveis para os mais jovens. Este centro não se dispersa nem se perde em pormenores. Pelo contrário, num estilo informal mas lúdico, o Visionarium apresenta todo o enquadramento fundamental do conhecimento científico, enquanto vai interligando as peças de histórias apaixonantes como as da Vida, da Terra, da matéria, e do Universo.

O Visionarium é sinónimo de um sonho que se pode experimentar. O equipamento científico deixa os seus visitantes tocar, cheirar, ouvir, interagir com instrumentos que explicam os fenómenos. Tudo para provar que a ciência não é complicada.

Explorar emoções

Situado em Santa Maria da Feira, a 30 km do Porto e a 45 km de Aveiro, o Visionarium – Centro de Ciência do Europarque - é um museu de ciência, interactivo, constituído por seis salas e destinado a jovens dos 8 aos 88 anos. O tema escolhido para as exposições é o da exploração, interligando os Descobrimentos Portugueses com os eventos históricos que contribuíram para o desenvolvimento científico, económico e social do Mundo.

Cada sala revela um testemunho dos Grandes Exploradores e, à medida que nos fala, a curiosidade pelo Mundo que nos rodeia começa a surgir com interrogações e a permanente busca de respostas. A partir daí, começamos a partilhar a paixão e as emoções das personagens que inspiraram as maiores descobertas da História da Humanidade.

Logo à entrada, os olhos não podem deixar de reparar na abóbada interior, fazendo lembrar a de um observatório, contraposta por uma rosa dos ventos desenhada sob o pavimento. A primeira sala reflecte a continuidade com essa rosa dos ventos. Mas, aqui, a longitude e a latitude são os temas dominantes. É a ‘Odisseia da Terra’, a sala "Magalhães". E é o próprio navegador virtualmente apresentado que nos convida a descobrir os conceitos e noções cientificas ligados à exploração do nosso planeta.

É na ‘Odisseia da Terra’ que, de forma lúdica e prática, podemos compreender o funcionamento da bússola ao GPS. E é também aqui que percebemos como consegue um avião suster-se no ar, ou porque flutuam os barcos de ferro.

Na ‘Odisseia da Matéria’ - sala de Mendeleiev - a mensagem do químico russo é clara: a matéria está omnipresente e é impalpável. A chave para o problema: observar, reflectir, compreender e experimentar. Num jogo de recomposição do mundo, o visitante toma conhecimento e interage com todos os estados da matéria – sólido, líquido, gasoso e plasma – e observa as suas propriedades eléctricas, magnéticas ou comportamentais. Em lugar de destaque, encontra-se a famosa tabela periódica construída por Mendeleiev. Mas, desta vez, numa versão interactiva.

À medida que a curiosidade por mais se vai aguçando, o monge Mendel, pai da genética, surge ao visitante e transmite-lhe uma mensagem fascinante: os seres humanos são todos únicos, mas ao mesmo tempo mais parecidos entre si do que diferentes. Entramos na ‘Odisseia da Vida’. Como evoluiu a vida na Terra? O que é o ADN? Neste sector podemos, igualmente, perceber que, muitas vezes, somos enganados pelos nossos sentidos, por exemplo, o olfacto (o visitante tem de tentar adivinhar os cheiros contidos em caixas especialmente preparadas para o efeito), ou a visão (onde tem de compreender porque razão os olhos recebem as imagens invertidas e só depois o cérebro as corrige).

Após o visitante deixar a escada rolante, depara com Hubble, famoso astrónomo que nos fala da imensidão do Universo deixando transparecer o local humilde que o Homem ocupa. Entramos na ‘Odisseia do Universo’, onde o podemos observar a terra, a lua e o sol. Até ao infinito. É nesta Odisseia que podemos verificar o nosso peso nos diversos planetas, ou como funcionam os telescópios. De seguida, são apresentadas algumas das implicações das viagens ao espaço. A que mais suscita interesse é, sem dúvida, o vácuo – ausência de som e vento, e o lançamento de um foguete.

O mundo da informática está sempre em desenvolvimento, pelo que não foi escolhido um explorador científico como anfitrião da sala. Na ultima odisseia, a da Informação – sala 0110 - a nossa imagem surge num ecrã junto duma personagem híbrida - homem-máquina - que nos faz perguntas. Com um aspecto de circuito impresso, o visitante é convidado a conhecer o mundo dos computadores e a formalidade da lógica informática. Como é um computador por fora e por dentro e o funcionamento de dispositivos como CD-ROM, o rato e o ecrã, tudo é explicado através de modelos.

Enquanto descemos, para mais uma aventura no Visionarium, o homem-máquina que nos recebe, ainda tem algo para nos dizer: "Pssssst! Pssssst! Então, já vão embora?...".

Alegrias e supresas

Jorge Teixeira, da Direcção de Marketing Comercial do Visionarium desde 1999, queixa-se de que os apoios são escassos: «Na altura, o projecto teve muitos, grande parte foram capitais próprios da Associação Empresarial de Portugal (AEP), mas tudo mudou talvez devido às carências que existem no mercado em termos de valências cientificas dos recursos humanos. Porque há uma carência grave em termos de apetência para as ciências, para as novas tecnologias...».

A ciência para muitos é complicada, ou reduz-se a uma parte. Mas essa não é a visão de Jorge Teixeira: «Portugal é um país de poetas e de escritores, com uma cultura mais literária, do que científica. Isso apesar de na época quinhentista termos sido um dos países mais evoluídos em termos científicos. Mas eu fico com a ideia de que o que se valoriza mais dessa altura é o espírito explorador, o espírito aventureiro dos nossos descobridores...».

Quanto à divulgação da Ciência, Jorge Teixeira não hesita: «Este tema cada vez mais afecta o nosso quotidiano e pode ter uma influência cada vez maior no nosso modo de vida». O Visionarium já foi distinguido, no ano 2000, com uma Menção Honrosa no âmbito do prémio Museu Europeu do Ano. Mas as alegrias surgem todos os dias: «Recentemente, veio cá uma pessoa que está uma fazer uma tese de doutoramento sobre museus científicos em Portugal. Ficou completamente espantada, confessando que o Visionarium é o museu mais parecido com o que estava habituado a visitar no estrangeiro», diz Jorge Teixeira.

...nos jardins do Palácio

Por: Ana Isabel Silva

Construídos nos finais do Séc. XIX, os jardins do Palácio de Cristal apareceram «numa altura em que, em todo o mundo, existia uma tendência para o coleccionismo botânico», como explica Luís Xavier, biólogo e responsável por aquele parque. Inicialmente situados em redor de uma extraordinária estrutura em cristal e ferro, que também servia de estufa para raridades botânicas, o local que os jardins hoje ocupam é um dos mais belos do Porto.

O Pálácio de Cristal foi inaugurado em Setembro de 1865, no âmbito de uma grande Exposição Internacional. Logo nessa altura, o edifício não passou indiferente ao público, permanecendo aberto até ao princípio do ano seguinte. Por falta de receitas provindas das suas actividades culturais, o Palácio seria adquirido pela Câmara Municipal do Porto, em 1934. Mais tarde, seria demolido e substituído por um novo pavilhão, inaugurado em Outubro de 1952, com vocação desportiva, especialmente para acolher os populares jogos de hóquei em patins. Recentemente, o edifício seria designado Pavilhão Rosa Mota, em honra da conhecida e prestigiada atleta portuense.

O Palácio de Cristal caracteriza-se por ser um pavilhão multi-usos, onde decorrem diversos acontecimentos e actividades culturais e desportivas, continuando cercado por belos jardins. O Palácio (a expressão por que é hoje conhecido) é o centro de uma imensa área verde, onde coexistem centenas de espécies da flora. De acordo com Luís Xavier, «nestes jardins, há centenas e centenas de espécies vegetais e, mesmo, plantas exóticas oriundas da Austrália e Nova Zelândia». Isto para além das diversas espécies animais que fizeram desses jardins o seu ‘habitat’.

Resguardados pela beleza dos jardins do Palácio, é fácil esquecemos o ‘stress’ e as buzinas da cidade, repousando num dos muitos bancos espalhados pelos recantos do parque. O canto dos pássaros, o verde que nos rodeia, as fontes que borbulham, os lagos, a vista sobre o rio Douro – tudo nos remete para outros tempos, mais calmos.

Joaquim Silva, presença assídua nos Jardins, confessa que este é um lugar de eleição: «Aqui, encontro-me com os amigos, jogamos cartas e conversamos sobre o futebol...». Olinda concorda com esta visão. Mas tem um reparo: «Só é pena os namorados virem para cá fazer tantas poucas vergonhas! No meu tempo, o jardim era um espaço para namorar, mas de uma outra forma, com mais respeito».

Mas o jardim é muito mais! Oficinas e espaços lúdicos utilizados pelas crianças e adultos nos tempos livres, a Biblioteca Almeida Garrett e, ainda, o Museu Romântico. Os ‘workshops’ temáticos que aí se realizam com frequência são um dos motivos que levam a este espaço a estudante de Artes, Gabriela Mendes: «Já cá estive num Workshop sobre reciclagem e utilização de papel.

O Jardim é um lugar onde busco inspiração para desenhar e fotografar». Para o malabarista Américo Jorge, «o Palácio é um lugar de encontro com o grupo Artes Circenses, de que faço parte. Ainda há quinze dias, realizou-se, aqui, um encontro de malabaristas».

Temos o rio mais poluído da Europa

Todos conhecem o rio. Rio Ave. Um rio frio, escuro e sem fundo. Nestas águas, a vida que existe não está sequer visível. E a poluição não pára de aumentar. Este é apenas mais um sinal dos problemas que envolvem a preservação e gestão da água em Portugal.

Por: Ana Carina Pereira

O papel da ADAPTA Manuel Rodrigues da Silva, presidente da Associação para a Defesa do Ambiente e do Património (ADAPTA) na região da Trofa - constituída para defender o ambiente, o património natural e promover a qualidade de vida das populações - sonha com um rio de águas límpidas. Para concretizar esse sonho, Rodrigues da Silva propõe-se inquietar mentalidades: «Os jovens estão de costas voltadas para o rio. Se calhar porque sempre o viram poluído e sempre assistiram à morte de peixes».

Uma das estratégias usadas no combate à poluição será a sensibilização das populações. Ao nível mais técnico do Emprego, estão previstos cursos de formação, alguns dos quais já estão no terreno, em S. Romão e na Trofa. Na área do Ambiente, são organizados cursos para técnicos operadores de sistemas ambientais para tratamento das estações de águas residuais.

O Grande Esgoto

Na década de 1960, este rio foi considerado ‘O Grande Esgoto’ - uma designação pouco honrosa que ilustrava o local onde eram drenados os resíduos de 700 empresas instaladas nas suas margens, bem como águas residuais domésticas produzidas por 500 mil pessoas. No início da década de 1990, o Estado desenvolveu um ambicioso projecto de despoluição: de acordo com Rodrigues da Silva, gastaram-se cerca de 89 mil milhões de euros, e construíram-se três grandes Estações de Tratamento de Águas Residuais (ETAR).

Para José Eduardo Martins, secretário de Estado do Ambiente, é natural que ainda haja muito para fazer por este rio, pois as políticas ambientais têm uma história de apenas duas décadas.

O que corre mal...

Apesar de todos os esforços de melhoria das condições do caudal do rio, José Abílio Costa, Presidente da Junta de Freguesia de Caldas de Vizela, não acredita na despoluição do Rio Ave e seus afluentes nos próximos 10 anos. Na sua opinião, a despoluição só será sucedida com a ajuda de todos, demonstrando maior civismo.

Por seu lado, Pedro Duarte, licenciado em Ecologia Marítima e docente da Universidade Fernando Pessoa, alerta que é necessário ter em linha de conta os poluentes que ficam acumulados no leito do rio. Normalmente, o que se analisa com maior exaustão é a qualidade da água, esquecendo-se os sedimentos, a fauna, a flora e as margens do rio.

Para este ecologista, a matéria inorgânica também deveria ser removida do leito do rio, uma vez que essas substâncias são ainda mais perigosas do que os compostos orgânicos. Neste contexto, Pedro Duarte é da opinião que o rio só estará despoluído quando os sedimentos, a margem adjacente e a água estiverem limpos.

Uma questão de dinheiro

A Mundotêxtil é uma empresa do Vale do Ave que, segundo o seu representante, Ricardo Ferreira, apesar de ter tido um apoio significativo do Estado para instalar o equipamento de tratamento de poluentes, continua a precisar de efectuar investimentos avultados no sector ambiental.

Ricardo Ferreira diz que o sistema de despoluição do Vale do Ave tem funcionado com problemas e queixa-se de que os valores cobrados pelas descargas «são elevados, prevalecendo a lógica do negócio e não a efectiva preservação do ambiente». Ricardo Ferreira considera que os equipamentos têm evoluído na sua eficácia e, embora dispendiosos, são fundamentais.

Para o representante do Mundotêxtil, a fiscalização é necessária assim como o bom funcionamento das infra-estruturas: «a verdade é que o Rio Ave continua poluído apesar dos volumosos investimentos efectuados».

A importância das ETAR

Águas do Ave é a empresa que supervisiona as ETAR do rio Ave. A empresa TRATAVE - Tratamento de Águas Residuais do Ave - tem autorização para explorar as estações existentes de tratamento de águas residuais do SIDVA (Sistema Integrado de Despoluição do Vale do Ave), actualmente substituído pelo Sistema Multimunicipal de Abastecimento e Saneamento do Vale do Ave.

Este sistema integra um Plano Geral de Saneamento e um Plano Geral de Abastecimento, que tem como objectivo aumentar a capacidade de tratamento das águas.

O sistema de despoluição do Ave é constituído por três ETAR: Serzedelo, Rabada e Agra. Estas frentes de drenagem, já em pleno funcionamento, abrangem cinco dos oito concelhos previstos no Plano Geral de Saneamento (Guimarães, Santo Tirso, Famalicão, Vizela e Trofa).
O esquema de tratamento é igual nas três ETAR e, após o tratamento, as águas são devolvidas ao rio.

A ETAR de Serzedelo tem a função de drenar a água do rio, retirar os compostos orgânicos e tratá-la de modo a devolvê-la à bacia com níveis de poluição definidos na lei. Este sistema de saneamento não cuida dos compostos inorgânicos. Essa estrutura tem ainda capacidade para recolher 15 mil m3 de caudal, por dia. Contudo, está a receber 25 mil m3, para não deixar que águas poluídas sejam ejectadas directamente no rio. Esta sobrecarga é temporária e o problema está solucionado com as obras previstas para duplicar as infra-estruturas.

Biblioteca Itinerante da Maia

Os portugueses não têm hábitos de leitura. A frase não constitui novidade. Mas também não desmotiva os responsáveis pela Biblioteca Municipal da Maia. Deitaram mãos à obra e apostam, agora, em cativar os jovens para o uso de livros. Valerá a pena?

Por: Liliana Pinto

No concelho da Maia, segundo estatísticas do Intituto Nacional de Estatística, existem cerca de 32 mil utilizadores para consulta e 13 mil utilizadores para empréstimo de livros. Mas serão estes números indicadores de um bom índice de leitura?

Maria Vicente, uma professora aposentada e sócia de uma papelaria na cidade da Maia, registou um decréscimo de vendas de livros na sua loja. Um facto que poderá ter sido causado pela emergência das grandes superfícies comerciais, que também vendem livros. Mas a razão pode ser outra, e preocupante: «O povo maiato não lê».

Maria Vicente diz ainda que os livros que mais se vendem são os escolares: «Quem gosta de ler, lê tudo, nem que seja os rótulos das embalagens!», afirma esta antiga professora, que pede às escolas que incentivem e cultivem mais o hábito da leitura junto dos jovens.

A constatação da lojista é notada de igual forma pelos políticos com responsabilidades nesta área. Mário Nuno Neves, vereador do pelouro da Cultura na Câmara Municipal da Maia, reconhece que «as pessoas não têm hábitos de leitura e continuam a ler a muito pouco».

A crise da leitura

Para contrariar esta crise, a Biblioteca Municipal da Maia está a tentar implementar um conjunto de medidas e acções que fomentem o hábito da leitura. Estas iniciativas ocorrem, geralmente, dentro do recinto da Biblioteca, que tem feito um grande esforço para se modernizar e chamar a si os leitores residentes no concelho.

A Bibioteca Municipal da Maia já se afirmou como um importante marco do concelho: ela tem por objectivo ser «uma porta de acesso local ao conhecimento, sensível aos estímulos da população maiata, fomentando a prosperidade e o desenvolvimento dos indivíduos e, consequentemente, da comunidade», tal como refere o texto do ‘site’ da Câmara Municipal da Maia. Este recinto para lazer e investigação possui cerca de 50 mil documentos, divididos entre a hemeroteca (a Sala de Periódicos), a Sala Infanto-Juvenil e a Biblioteca Central - todos acessíveis a consulta.

A Biblioteca tenta atrair a atenção das crianças, dos jovens e dos idosos através de diversas actividades e iniciativas formatadas para estes três tipos de público. Exemplo disso é a "Hora do Conto", o "Ciclo do Vídeo", o "Ciclo de Cinema Português", as exposições e o atelier onde, durante cerca de 90 minutos, as crianças participam em actividades lúdicas. Os leitores e visitantes mais assíduos deste recinto podem, ainda, receber um prémio simbólico no Dia Mundial do Livro, por serem considerados os melhores leitores da Biblioteca.

Uma biblioteca sobre rodas

Outra iniciativa promovida é a Biblioteca Itinerante. Esta consiste numa carrinha que transporta cerca de dois mil livros, percorrendo as escolas primárias do concelho e lares de idosos, permitindo a consulta e a requisição de livros da Biblioteca Municipal e da Biblioteca Gulbenkian. Esta biblioteca móvel pretende chegar a todos aqueles que têm dificuldade em deslocar-se até ao edifício principal.

Neste primeiro ano de vida, a Biblioteca Itinerante registou um número considerável de leitores: cerca de oito mil – número que testemunha o sucesso desta iniciativa.

«Hoje em dia, o livro é um bem cultural que é caro e, portanto, compreendo que numa sociedade em que o consumo impera, o livro seja cada vez mais um dos bens menos adquirido pelas pessoas. O que temos que fazer é utilizar todos os instrumentos ao nosso alcance e tentar disponibilizá-lo, não dando desculpa às pessoas para não os lerem», conclui Nuno Neves.

O bichinho da leitura

O hábito da leitura deve ser criado desde a mais tenra idade. Por isso, a preocupação demonstrada pela Biblioteca em elaborar actividades direccionadas para as crianças. Suzana Silva, coordenadora desse espaço, defende que esta «Casa do Livro» tem a sua acção redireccionada para o incentivo às primeiras leituras porque, «nas primeiras idades, ou se ganha repulsa ou amor aos livros». Assim, quando as crianças entram na Biblioteca, a coordenadora recebe-as dizendo: «A Biblioteca é vossa amiga e os amigos gostam de ser visitados. Se vocês querem continuar a ser amigos da Biblioteca têm que a visitar várias vezes. Este espaço é vosso».

Para as professoras maiatas, como Maria Natividade Neves, a leccionar no Ensino Básico, «a leitura é fundamental para as crianças, porque é um meio de aprendizagem, um espaço de lazer e uma companhia».

O Porto de fachada: os rostos de uma cidade abandonada

Se existe cidade bonita em Portugal, chama-se Porto. Quem dentro dela viaja, depara-se com uma cidade que, sendo Património Mundial, goza de uma arquitectura única, de pontes de diversas estéticas, de monumentos históricos. E, sobretudo, de fachadas lindíssimas...

Por: Ana Isabel Silva

O que fica de fora, mas não longe dos olhares dos turistas e dos visitantes, são as muitas fachadas que se vão degradando em ruas estreitas. O problema das fachadas degradadas não é simples. Na maioria das situações, fazem parte de casas particulares cujos proprietários não têm uma situação financeira que lhes permita a manutenção dos edifícios. E a maioria não tem conhecimento sequer da existência de fundos subsidiários, ou de programas de reabilitação de associações que se ocupam destes assuntos.

A docente de Planeamento e Projecto do Ambiente da Universidade Fernando Pessoa, Filipa Malafaya, conhece bem a dimensão do problema: «No Porto, existem alguns programas de reabilitação física das fachadas, especialmente nas freguesias que integram a zona histórica, considerada património da humanidade, e para a área envolvente». A questão reside no facto de os subsídios que são atribuídos implicarem sempre um investimento por parte dos proprietários. Um assunto que, no entender de Filipa Malafaya, não está devidamente esclarecido: «Não existe uma clarificação na abordagem que se faz às pessoas, no sentido de as levar a procurar esses subsídios».

Enquanto os programas de reabilitação das fachadas são ignorados, para Avelino Oliveira, licenciado em Arquitectura, o problema da degradação das fachadas na cidade do Porto assenta, antes de mais, na falta de investimento dos particulares: «As rendas cobradas pelos senhorios são baixíssimas, o que não lhes permite ter receitas para promover obras».

Mas há uma outra vertente nesta questão, associada a um fenómeno actual na cidade do Porto: o êxodo populacional do centro para a periferia: «A saída da população do centro da cidade provocou uma recessão que torna muito difícil inverter o processo de degradação. Senão repare, sem investimentos para o centro do Porto como é que conseguimos ter a cidade em constante actualização?», pergunta Avelino Oliveira, insistindo na necessidade de injecção de fundos do Estado na requalificação dos edifícios degradados.

O problema não tem sido esquecido pela Câmara Municipal do Porto. O arquitecto Patrício Martins explica que o município pode intervir num edifício em más condições de conservação, «embora o faça apenas em situações extremas, quando ele ameaça ruína e se transforma num perigo público». A verdade é que a degradação das fachadas é apenas uma parte do problema geral da conservação dos edifícios, já que, na maioria das vezes, uma fachada não mostra a verdadeira situação do edifício.

O mais grave é que a degradação tem avançado a um ritmo vertiginoso e à vista dos portuenses. Uma das soluções apresentadas pela Câmara do Porto prende-se com novas leis. «Foi criada uma nova legislação que permite a constituição de sociedades empresariais cuja finalidade é reabilitar as partes antigas da cidade - as S.R.U.A. (Sociedades de Reabilitação Urbana)», explica Patrício Martins.

Casa da Música - Porto2001 S.A

Para já, o som é o da polémica. Mas a Casa da Música, o projecto da Sociedade Porto-2001, tem muitas outras notas na partitura que quer revelar ao público. Com a data de inauguração marcada para o final deste ano, depois de muitos adiamentos e falsas previsões, os seus responsáveis admitem que os custos da obra já aumentaram para o triplo do que estava inicialmente estipulado. Mas, agora, todas as atenções se viram para a sua programação.

Por: Ana Cristina Pinheiro

A Sociedade Porto-2001 promoveu um concurso entre arquitectos para um edifício num terreno da Rotunda da Boavista, considerado um dos locais mais ruidosos da cidade. Das sete equipas convidadas, ou admitidas, somente três se apresentaram, e foi então seleccionado o projecto do holandês Rem Koolhaas.

O edifício projectado não seria um cristal, como o classificou o ex-ministro da Cultura, Manuel Maria Carrilho, mas um intrigante meteorito de betão, com 40 metros de altura e situado mesmo em frente ao monumento da Guerra Peninsular, do arquitecto Marques da Silva, em plena Rotunda da Boavista.

O grande objectivo da Casa da Música é ser uma casa para todos os tipos de música e para todos os tipos de público. O propósito é que o veio condutor de todas as suas manifestações seja a qualidade. De facto, o que quer que se faça na Casa da Música tem de obedecer a ‘standards’ de qualidade, que se entendam adequados, mesmo de qualidade geral, e que estejam em linha com os princípios editoriais da Casa da Música.

As certezas do presidente

Manuel Alves Monteiro, ex-presidente da Bolsa de Valores do Porto, foi nomeado presidente do Conselho de Administração da Casa da Música, em Julho de 2003. Sempre acompanhou os trabalhos da Casa da Música, embora «não com o detalhe ou a proximidade que gostaria de ter acompanhado», confessa. E prefere não falar em polémicas: «Chame-lhe polémicas... eu diria que são as contingências próprias de projectos com estas características», remata Alves Monteiro. E é dessas contingências que a PESSOAS foi falar com o Presidente da Casa da Música.

Tendo em conta que a zona da Boavista é considerada como um pólo central da cidade, a Casa da Música surge imbuída dessa centralidade. Alves Monteiro está de acordo em que a Casa da Música se impõe à Rotunda. Mas: «Há quem diga que a Casa da Música estaria melhor num local como o Parque da Cidade. O que é certo é que as polémicas valem e são apaixonantes quando nos fazem sentir que podemos intervir nelas...».

Num tom ameno e confiante Alves Monteiro começa pelas certezas: «A Casa da Música está neste local assumidamente. Não vai sair dali, não vamos mudá-la para qualquer outro sítio, como é de imaginar. Portanto, vamos assumir os desafios que a inserção naquele local nos trazem».

Prazos adiados

Quanto à escolha do projecto arquitectónico vencedor, Manuel Alves Monteiro, que na altura do concurso ainda não estava ligado à Casa da Música, tem uma opinião: «Este tipo de iniciativas realiza-se numa constante luta contra o tempo, com uma pressão muito grande, por parte dos gestores, para que se avance com a máxima rapidez», diz, tentando uma explicação para a polémica que envolveu a exposição dos projectos concorrentes.

Apesar de toda aquela pressa, os prazos de conclusão da empreitada ainda estão por definir. Abril de 2002 deu lugar a Agosto. Mais recentemente passou a Maio de 2004. Mas, o presidente do Conselho de Administração da Casa da Música logo manifestou reservas quanto ao cumprimento desse prazo. Agora fala-se em final deste ano: «Uma obra com estas características tem um ‘timing’ de desenvolvimento. Eu diria que não pode ser manipulado facilmente. E essa situação está à vista – há, de facto, várias razões que justificam o deslize temporal: os Invernos rigorosos, mas também a própria construção de mais um piso de cave, para garagens, e de todas as vicissitudes que a obra teve».

As contas (quase) finais

Vamos a contas. Em 1999, esperava-se que a Casa da Música fosse custar 33 milhões de euros; um ano depois, a previsão subiu para os 42 milhões; em 2001, o valor foi fixado nos 55 milhões; em 2002, ascendeu aos 77 milhões. Actualmente, os custos já se estimam em 100 milhões de euros, o triplo do inicialmente previsto. Sobre este deslize financeiro, Alves Monteiro diz que não se pode pronunciar, já que as razões básicas estão situadas fora do seu mandato.

Ainda assim, afirma que não se trata verdadeiramente de um deslize: «Há factores incrementais que justificam o aumento dos custos. Não é impunemente que se constrói um edifício com características como estas: ao nível da engenharia civil, ao nível da arquitectura, das exigências de estruturas, nos planos inclinados que têm as várias das faces daquele poliedro. Tudo isto ajuda a justificar como é que chegamos aos 100 milhões de euros».

Um buraco com vista para o mar...

Nas traseiras da Casa da Música, um edifício projectado por Ginestal Machado impõe-se defronte da janela do grande auditório. Para desimpedir as vistas para o mar, foi-lhe introduzido um enorme buraco arquitectónico. Manuel Alves Monteiro, também aqui, não quer alimentar grandes polémicas. Deixa apenas uma questão: «Será que a sua volumetria é a adequada para enquadrar bem a Casa da Música?».

A venda do terreno que alberga o edifício de Ginestal Machado foi realizada já depois da Casa da Música estar lá implantada. Mas não é aí que reside a polémica, no entender de Alves Monteiro, porque a Casa da Música «necessita, naquele enquadramento, de uma construção que lhe faça melhor a delimitação, que esconda o edifício de zonas urbanas que a delimitam e que são zonas incaracterísticas».

Mas esta é uma questão secundária, comparada com a pergunta essencial: para que servirá a Casa da Música? Com dinheiros públicos, a obra nasceu para dar música a todos. Mas o que pensam os portuenses deste objectivo? A PESSOAS andou pela cidade, tentando auscultar diferentes opiniões.

Chove na cidade do Porto e o trânsito na rotunda da Boavista complica-se. Mesmo em frente à Casa da Música existe uma padaria, onde várias pessoas se abrigam da chuva. Maria Aida, doméstica, entra na conversa: «Gosto imenso de música. Mas confesso que não sei para que servirá a Casa da Música. Só lhe posso falar do que está à vista: é enorme e não tem nada a ver com os restantes edifícios da Rotunda».

Jaime, empresário, olha atentamente para as máquinas a trabalhar na Casa da Música, pede um café, e comenta: «Isto é uma obra de arte, já tive a oportunidade de visitar a Casa da Música, e outros edifícios de igual envergadura, e o que lhe posso dizer é que este é lindo. É uma obra de arte».

Para quem trabalha na Casa da Música, os dias não têm sido fáceis. António não trabalha na obra desde o seu início: «Tenho consciência de que estou a ajudar para que uma obra de arte nasça. A Casa da Música é uma obra de arte. Já viu alguma casa ou edifício como este?».

Requalificação de Gaia

Gaia está diferente. Junto ao rio Douro, há uma nova cidade nascida de vários projectos: um novo espaço onde música, cheiros, cores e sabores se misturam criando um ambiente desenhado para o lazer. As alterações na marginal de Gaia são bem visíveis. Remova-se o caos gerado pelas obras do Metro, e a paisagem da ‘rive gauche’ do Douro atrai.

Por:Liliana Leandro

A necessidade de recolher os esgotos da parte mais antiga da cidade de Gaia (escarpa da serra do Pilar e armazéns de vinho do Porto) para despoluir o rio Douro, levou a que a empresa municipal Águas de Gaia, responsável pelo saneamento da cidade, instalasse um tubo emissário por toda a costa, capaz de transportar os resíduos até à estação de tratamento na Madalena.

A colocação desse tubo, desde a Ponte D. Luís I até à ETAR, implicou o levantamento dos arruamentos que, juntamente com os passeios, foram reconstruídos ao longo dos cinco quilómetros compreendidos pela obra. O custo total do projecto foi de 12.5 milhões de euros (cerca de 2.5 milhões de contos), financiado pelo fundo de coesão europeia em cerca de 70%. Mas o resultado foi considerado um sucesso, do ponto de vista do melhoramento das infraestruturas.

Cais de Gaia quer ser um novo espaço de animação e lazer

Mesmo junto ao Douro, e em frente às caves de Vinho do Porto, ergue-se um edifício peculiar pelas suas características e aspecto inovador. Inaugurado em Maio de 2003, o Cais de Gaia é já um sucesso na noite gaiense. Este novo espaço de lazer é procurado a qualquer hora do dia por quem quer usufruir dos mais de 27 mil metros quadrados de explanadas, lagos, bares e cafés.

A obra começou em Dezembro de 2000, em paralelo com a instalação do emissário pela Águas de Gaia. As frentes de água representam, inevitavelmente, uma atracção turística. A ideia nem sequer é nova: veja-se a Expo-98, actualmente o Parque das Nações, em Lisboa. Em Gaia, esta estrutura veio reconverter um espaço «outrora desconfortável e sem restauro possível», como explica Nuno Rodrigues, da empresa Douro Cais.

Com cerca de 30 estabelecimentos comerciais, o Cais é um espaço pensado para poder acolher pessoas de todas as idades e classes sociais, tornando-se, indubitavelmente, num pólo de atracção para o concelho. Os 10 milhões de euros (cerca de 2 milhões de contos) de investimento privado parecem estar a dar o seus frutos: muitos são aqueles que, como João Cândido, estudante de 24 anos, se passeiam neste espaço em busca de «um ambiente aconchegante onde se possa ter uma conversa entre amigos». Já Magda Azevedo, de 23 anos, prefere o Cais «pela variedade de bares e pelo bom ambiente».

A variedade de bares é um dos pontos mais referidos para a escolha deste recinto que, na opinião de Diogo Assunção, de 19 anos, «trouxe sem dúvida benefícios para a cidade de Gaia». Os preços praticados pelos estabelecimentos geram, no entanto, alguma discórdia, já que são muitos os utilizadores que os consideram excessivos: «Acho que há algum exagero», critica Magda Azevedo.

Uma nova cara

A cidade de Gaia possui uma vasta costa com praias bastante procuradas na época balnear. Esta adesão ao litoral gaiense tem justificado, para os responsáveis autárquicos, a forte intervenção urbanística e o avultado investimento financeiro. Junto a essas praias foi construído um passeio pedonal onde os transeuntes podem desfrutar dos benefícios que o ambiente à beira mar e o ar livre podem oferecer.

Numa tarde ensolarada de domingo, ou mesmo ao fim do dia, muitos são aqueles que procuram este espaço. «A obra foi feita no sentido de requalificar a zona e de dar às pessoas condições para poderem usufruir de um bem que está tão perto de nós: o mar e a praia», esclarece Claro Costa, engenheiro responsável pelo projecto.

Esta obra junto ao mar, integrada no Plano Nacional de Ordenamento da Orla Costeira, visa, ainda, a contenção da expansão urbana, a valorização da diversidade biológica e paisagística e a ordenação dos areais e frentes de mar.

Diferentes rumos

Concluídos os projectos levados a cabo pela Águas de Gaia, Câmara de Gaia e Douro Cais, levanta-se a questão do rumo a seguir. Se por um lado os arruamentos estão reconstruídos, permitindo um maior acesso à zona, por outro, existe um enorme manto de armazéns de vinho do Porto que, na opinião de António Martins, da Câmara de Gaia, «se irão deslocar para a zona do Douro, já que a capacidade de armazenagem é muito maior e os custos de mão-de-obra inferiores».

É tomando este panorama como base que a Câmara de Gaia pretende criar espaços de cultura para atrair novos públicos. A Real Companhia Velha poderá ser transformada no futuro Centro Cultural de Gaia, e há planos para a restauração do convento de Corpus Christi, que prevê a sua reconversão num hotel de charme.

Gondomar: em busca da arte perdida

Na capital portuguesa da ourivesaria, há artesãos que se dedicam de corpo e alma a uma prática que parece ter os dias contados. A tradição da filigrana tem cada vez menos seguidores. Mas não perdeu a alma.

Por: Nair Silva

Fernando Silva, de 67 anos, é um dos últimos artesãos na vila de Valbom, no concelho de Gondomar. Sapateiro de profissão, Fernando Silva pretende preservar por muitos mais anos o seu ofício. Mas, não descura o uso dos seus tempos livres, dedicando-se com afinco à escultura de madeiras, raízes e pedra.

Conhecido na vila pelo seu talento inato com as habilidosas mãos, Fernando Silva cedo descobriu as maravilhas da arte: «Isto é um trabalho que não dá lucro, nem dá para sobreviver: para mim, é mais como um desporto», conta o artesão.

Para este artista, a arte representa um refúgio das horas de trabalho: «Estou sempre há espera de um tempo certo para voltar às minhas peças. Isto não é nenhum negócio. E sabe porquê? Não há peças definidas, não há peças iguais. O tempo que passo com cada uma delas é sempre diferente, e é isso que as torna minhas, que as torna verdadeiras. Isto é a minha definição de Arte!».

Gondomar foi, outrora, uma cidade conhecida por ser símbolo de artes como a marcenaria e a filigrana. Mas, com o passar dos anos, Gondomar foi perdendo esta herança genética. Apesar de ainda ser conhecida como a capital da filigrana, a verdade é que vai diminuindo o número de artesãos nestas áreas

A primeira obra

Mas, haverá uma forma de aprender uma arte? Uma arte original? Uma arte preservada? «O meu dia começa com uma busca por pedras, granitos, pedaços de madeira ou raízes» relata Fernando Silva. «A primeira vez, estava eu a ver um programa na televisão sobre escultura e, por brincadeira, decidi imitar o que via. Fui ao rio e agarrei num pedaço de granito. Sobre a água vi os seus brilhos, as formas, as imagens e os feitios. Comecei. Quando acabei tinha um homem sentado num trono, como um faraó. Tinha ali, nas minhas mãos, a minha primeira obra...»

Estava dado o primeiro passo para uma longa caminhada de exposições, feiras e trabalhos em escolas. Fernando Silva continuava maravilhado com as emoções que a escultura lhe fazia sentir. Esculpia cada vez mais, e as pessoas, intrigadas com o seu talento, começaram a visitá-lo em sua casa e a comprar as suas peças em raíz e madeira.

Foi em 1973 que ganhou o 1º lugar do Prémio do Jovem Artista da Câmara Municipal do Porto e sentia-se motivado para alcançar muito mais. Queria levar as suas peças ao mundo, dar a conhecer o seu talento e partilhar com outros as imagens que ele via sempre que apanhava um pedaço de madeira ou de granito.

Foi então que Fernando Silva percebeu o verdadeiro valor das suas peças: um simples papel ou taça não relata o valor do artista, nem o valor da peça. O artista é quem cria o seu próprio estilo.
A filigrana continua a ser um pequeno tesouro do concelho dourado de Gondomar. Trabalhada com perícia e exactidão, deixa, aos olhos de quem vê, uma beleza inigualável. Os pormenores, os feitios, os pequenos (grandes) pormenores. Tudo reunido dá lugar a uma arte que, se não for devidamente protegida, pode entrar em fase de extinção.

José Fernando, artesão de Gondomar, retomou o negócio do seu pai na arte da filigrana. Um pouco descontente com o rumo que esta profissão está a tomar, contou-nos, com matizes de desilusão, o trabalho que faz na sua oficina: «Aqui trabalhamos só com filigranas. Mas isto está mau. É uma actividade que parece, aos poucos, estar a extinguir-se porque as senhoras que fazem este trabalho já são bastante idosas e as filhas não parecem querer continuar. Não é uma arte certa».

Uma arte muito original e, como diz José Fernando, «uma das artes mais antigas ...do tempo dos árabes.» Mas os tempos são de crise, especialmente para uma arte que exige tanto empenho, trabalho, dedicação e apoio: «Todas as coisas têm um princípio e um fim. Esta arte está a chegar ao fim. O mercado não tem ciclos para esta actividade. Não há mercado.»

Futuro incerto

Os apoios continuam a ser escassos e há muito pouca formação profissional. Os amantes da filigrana sabem que não se podem dedicar a ela a tempo inteiro, porque não há encomendas nem trabalho que cubra todas as despesas: «Fazem propaganda para segurar a filigrana. Veja-se o caso de cursos profissionais. Muitos tiram o curso, mas depois não continuam na profissão».

Existe, agora, uma associação que suporta os trabalhos e exposições destes artistas, dando a hipótese de participar em eventos para divulgação dos seus trabalhos e, com isso, retirar algum proveito financeiro e cultural.

A Associação Artística de Gondomar (ARGO) existe desde 1989 e efectua um trabalho notável no ramo do artesanato. Em colaboração estreita com a Câmara Municipal de Gondomar, que desde cedo acarinhou este projecto cedendo o espaço para a formação desta associação, a ARGO tornou-se um espaço de colaboração entre artesãos e também uma forma de trazer um pouco de segurança a uma profissão que se sente pouco valorizada.

Nuno Moutinho, tesoureiro e actual responsável pela associação, realça a originalidade da ARGO: «Esta associação tem um formato muito específico, porque abraça todas as artes. Estamos a falar de quase 50 artistas, do Porto e de outras partes do país. Temos desde artesãos, ‘designers’, escultores, pintores, músicos, poetas e fotógrafos. De qualquer maneira, a ideia foi criar sinergias para dar vida ao individualismo; ou seja, através do associativismo conseguir divulgar a obra de cada um».

Bares e Cantinas Universitárias: menu com sabor a conformismo

Os bares das Universidades são um ponto de encontro – e uma espécie de mal necessário. Mas é elevado o número de alunos que as frequentam. A pergunta surge: e a sua qualidade?

Por:Andreia Carneiro

A generalidade da população e, particularmente os jovens, têm vindo a aderir, em grande número, ao conceito de «fast-food». Por isso, quando esse conceito faz parte da ementa dos bares das universidades que frequentam, os estudantes já não estranham.

Mas não teriam estes bares estudantis outras responsabilidades? «Há empresas a trabalhar com refeitórios que colocam nutricionistas ao serviço. Contudo, muitos privados que fazem a exploração de bares negligenciam esse controlo. Não há qualidade, nem higiene, muito menos segurança», explica Pedro Carneiro, nutricionista. E deixa um conselho: «Para tentar equilibrar as quantidades dos nutrientes, a escolha da ementa é, também, muito importante. Devem ser lembradas as pessoas que, por exemplo, optam por ser vegetarianas».

São muitos os cuidados a ter para com a alimentação: os fornecimento de mercadorias (que devem ter certificados de qualidade), o armazenamento das matérias-primas, a renovação de stocks, e o estabelecimento de prazos, sobretudo nos produtos frescos. Já na confecção, o cuidado com o circuito dos alimentos na cozinha é essencial.

Para Pedro Carneiro, os responsáveis pelas cantinas - normalmente muito simpáticos e atenciosos - deveriam frequentar cursos de nutrição, higiene e segurança. Dessa forma, o panorama alimentar nas universidades passaria a ser melhor. Nesses cursos, os responsáveis pelas refeições universitárias poderiam ficar a conhecer os grupos alimentares, aprenderiam a diversificar as ementas e tomariam mais cuidados higiénicos com a alimentação.

22 junho, 2004

Anorexia: beleza em estado sórdido

Qualquer um de nós já viu, nas reportagens de televisão, ou até numa revista, relatos na primeira pessoa, sobre doentes que padecem de Anorexia. Esta doença, aparentemente menos preocupante do que outras, é difícil de resolver. Em muitos casos, pode ser fatal.

Por: Andreia Carneiro

A palavra ‘anorexia’ designa a falta de apetite. Mas, de facto, essa falta de apetite não corresponde à realidade: o que acontece é uma recusa consciente em se alimentar. Um fenómeno muitas vezes associado a pessoas que pretendem manter um peso abaixo do que seria desejável, tendo em conta a sua altura e idade.

Os médicos explicam a doença como uma distorção na percepção do esquema corporal, pois, sempre que o anoréctico se olha ao espelho, mesmo com uma diminuição constante do seu peso, continua a achar-se gordo. Este ciclo é tão preocupante que, em alguns casos, se não se pede ajuda a tempo, a situação acaba em fatalidade.

As mulheres são as mais afectadas por esta doença, mas desengane-se quem pense que os homens não podem padecer dela. Quanto à idade de maior risco, situa-se entre os 13 e os 30 anos.

Os médicos que estudam o problema não conseguem detectar qual a sua causa principal, mas apontam um quadro de factores que aumentam o risco de a contrair: a combinação de elementos biológicos tais como a pré-disposição genética, ou conflitos familiares e sociais.

Normalmente, tudo começa por uma simples dieta, retirando da sua cadeia alimentar alguns alimentos que o paciente sabe que contêm um elevado número de calorias. Depois, a quantidade de alimentos a ingerir vai diminuindo de forma vertiginosa, ficando a dieta alimentar seriamente restrita.

O problema agrava-se ainda mais quando os anorécticos juntam a esta má qualidade alimentar um elevado esforço físico, passando uma grande quantidade de horas no ginásio. Em casos mais extremos, tudo isto é complementado pela auto-indução do vómito.

Projecto Ambulatório de Saúde Oral e Pública

A Universidade Fernando Pessoa tem colocado ao dispor da população um Projecto Ambulatório de Saúde Oral e Pública. O objectivo é proporcionar cuidados de saúde oral e de enfermagem ligeira, de forma totalmente gratuita, às crianças com incapacidade física e/ou mental, aos alunos de escolas do ensino básico, aos carenciados, bem como aos idosos a viver em lares de terceira idade.

Por: Elisabete Cardoso

O projecto foi idealizado pelo reitor da Universidade Fernando Pessoa (UFP), Salvato Trigo, como mais uma forma de apostar no ensino, oferecendo aos alunos da Faculdade de Ciências da Saúde uma oportunidade de aprenderem no terreno como tratar a saúde dos portugueses.
Neste projecto existem duas unidades móveis: a ilustrada na foto da página ao lado que entrou em funcionamento em Fevereiro deste ano; e uma outra que foi para a estarda no início de 2002.


A clinica ambulante está equipada com um consultório dentário e respectivos meios de diagnóstico: imagiologia digital intra-oral, um mediador de tensão arterial, um electrocardiograma simples e instrumentos de colheita de sangue e urina (para realização de análises de colesterol, diabetes e hepatite C) e não falta, sequer, uma plataforma elevatória que coloca a bordo deficientes, idosos e utentes que dela precisem.

Esta unidade ainda está a ganhar visibilidade. Contudo, tem revelado grande sucesso nas comunidades por onde passa. Trata-se de um projecto pioneiro e único na Península Ibérica, que teve a sua primeira experiência em Ponte de Lima, onde a Universidade Fernando Pessoa tem um pólo educativo.

O projecto arrancou com o apoio (financeiro e humano) da Fundação Fernando Pessoa e com patrocínios de laboratórios e da Fundação Rockefeller. O projecto tem custos elevados, como refere Jacinto Durães, gestor do projecto: «Tem sido um esforço enorme, numa altura em que o país e as empresas estão a ultrapassar uma fase muito difícil. Esta conjuntura torna difícil gerir um projecto que envolve muito dinheiro».

Os alunos da Universidade Fernando Pessoa beneficiam de um contacto directo com a realidade, sendo possível colocarem em prática as teorias que aprendem em sala de aula. Joana, estudante de Fisioterapia, teve a sua primeira experiência numa deslocação do projecto a Fátima: «É bom trabalhar nesta iniciativa. O profissionalismo é elevado, deparamo-nos com situações tocantes e apercebemo-nos das dificuldades que sentem a maioria dos portugueses nos seus cuidados de saúde básicos».

Maria do Carmo é uma das utentes do projecto: «Uma clínica deste porte estacionada numa escola secundária é algo de extraordinário», diz, supreendida pelo carácter gratuito do serviço, enquanto esperava na fila para ser atendida pelos estudantes de Medicina Dentária.

O projecto parte em busca das carências da comunidade incentivando as crianças a que iniciem a sua higiene oral, oferecendo-lhes pastas e escovas de dentes. O propósito é sempre prestar serviço à comunidade. Um esforço que tem merecido aplausos e sorrisos por parte daqueles que o requisitam, como verificou uma paciente que se dirigiu à unidade móvel: «Os jovens foram muito atenciosos».

Costa e Silva, médico assistente do projecto, refere-o como «uma ideia genial do Reitor da UFP». Na sua opinião, uma iniciativa deste género exige um bom trabalho de equipa.