26 junho, 2004

Biblioteca Itinerante da Maia

Os portugueses não têm hábitos de leitura. A frase não constitui novidade. Mas também não desmotiva os responsáveis pela Biblioteca Municipal da Maia. Deitaram mãos à obra e apostam, agora, em cativar os jovens para o uso de livros. Valerá a pena?

Por: Liliana Pinto

No concelho da Maia, segundo estatísticas do Intituto Nacional de Estatística, existem cerca de 32 mil utilizadores para consulta e 13 mil utilizadores para empréstimo de livros. Mas serão estes números indicadores de um bom índice de leitura?

Maria Vicente, uma professora aposentada e sócia de uma papelaria na cidade da Maia, registou um decréscimo de vendas de livros na sua loja. Um facto que poderá ter sido causado pela emergência das grandes superfícies comerciais, que também vendem livros. Mas a razão pode ser outra, e preocupante: «O povo maiato não lê».

Maria Vicente diz ainda que os livros que mais se vendem são os escolares: «Quem gosta de ler, lê tudo, nem que seja os rótulos das embalagens!», afirma esta antiga professora, que pede às escolas que incentivem e cultivem mais o hábito da leitura junto dos jovens.

A constatação da lojista é notada de igual forma pelos políticos com responsabilidades nesta área. Mário Nuno Neves, vereador do pelouro da Cultura na Câmara Municipal da Maia, reconhece que «as pessoas não têm hábitos de leitura e continuam a ler a muito pouco».

A crise da leitura

Para contrariar esta crise, a Biblioteca Municipal da Maia está a tentar implementar um conjunto de medidas e acções que fomentem o hábito da leitura. Estas iniciativas ocorrem, geralmente, dentro do recinto da Biblioteca, que tem feito um grande esforço para se modernizar e chamar a si os leitores residentes no concelho.

A Bibioteca Municipal da Maia já se afirmou como um importante marco do concelho: ela tem por objectivo ser «uma porta de acesso local ao conhecimento, sensível aos estímulos da população maiata, fomentando a prosperidade e o desenvolvimento dos indivíduos e, consequentemente, da comunidade», tal como refere o texto do ‘site’ da Câmara Municipal da Maia. Este recinto para lazer e investigação possui cerca de 50 mil documentos, divididos entre a hemeroteca (a Sala de Periódicos), a Sala Infanto-Juvenil e a Biblioteca Central - todos acessíveis a consulta.

A Biblioteca tenta atrair a atenção das crianças, dos jovens e dos idosos através de diversas actividades e iniciativas formatadas para estes três tipos de público. Exemplo disso é a "Hora do Conto", o "Ciclo do Vídeo", o "Ciclo de Cinema Português", as exposições e o atelier onde, durante cerca de 90 minutos, as crianças participam em actividades lúdicas. Os leitores e visitantes mais assíduos deste recinto podem, ainda, receber um prémio simbólico no Dia Mundial do Livro, por serem considerados os melhores leitores da Biblioteca.

Uma biblioteca sobre rodas

Outra iniciativa promovida é a Biblioteca Itinerante. Esta consiste numa carrinha que transporta cerca de dois mil livros, percorrendo as escolas primárias do concelho e lares de idosos, permitindo a consulta e a requisição de livros da Biblioteca Municipal e da Biblioteca Gulbenkian. Esta biblioteca móvel pretende chegar a todos aqueles que têm dificuldade em deslocar-se até ao edifício principal.

Neste primeiro ano de vida, a Biblioteca Itinerante registou um número considerável de leitores: cerca de oito mil – número que testemunha o sucesso desta iniciativa.

«Hoje em dia, o livro é um bem cultural que é caro e, portanto, compreendo que numa sociedade em que o consumo impera, o livro seja cada vez mais um dos bens menos adquirido pelas pessoas. O que temos que fazer é utilizar todos os instrumentos ao nosso alcance e tentar disponibilizá-lo, não dando desculpa às pessoas para não os lerem», conclui Nuno Neves.

O bichinho da leitura

O hábito da leitura deve ser criado desde a mais tenra idade. Por isso, a preocupação demonstrada pela Biblioteca em elaborar actividades direccionadas para as crianças. Suzana Silva, coordenadora desse espaço, defende que esta «Casa do Livro» tem a sua acção redireccionada para o incentivo às primeiras leituras porque, «nas primeiras idades, ou se ganha repulsa ou amor aos livros». Assim, quando as crianças entram na Biblioteca, a coordenadora recebe-as dizendo: «A Biblioteca é vossa amiga e os amigos gostam de ser visitados. Se vocês querem continuar a ser amigos da Biblioteca têm que a visitar várias vezes. Este espaço é vosso».

Para as professoras maiatas, como Maria Natividade Neves, a leccionar no Ensino Básico, «a leitura é fundamental para as crianças, porque é um meio de aprendizagem, um espaço de lazer e uma companhia».

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