26 junho, 2004

Quatro paredes com vista para um canudo

Quatro paredes: um imenso espaço, repleto de ambições, sonhos, aventuras, histórias e ...estórias. Estamos a falar exactamente de quê? De Alojamento Universitário.

Por: José Silva

O alojamento universitário é um problema que preocupa milhares de alunos que todos os anos procuram um lugar seguro, cómodo e económico para viver durante os anos de estudo superior.
Para uns, um quarto é suficiente. Para outros, o grau de exigência é superior: requerem condições especiais de alojamento e mostram-se interessados na qualidade dos parceiros de habitação. Afinal, alugar um espaço significa novas responsabilidades, novos compromissos e... muita independência.

Primeiro objectivo: tomar boas decisões. Uma tarefa tornada ainda mais difícil pela pressão de não falhar. Das persianas até à canalização, tudo deve ser amplamente visto e discutido. Ainda assim, tomadas todas as precauções, nem sempre o que procuramos é o que encontramos. E o pior acontece quando nos alugam «gato por lebre». Ou seja, «casa por ...barraca». Nesse momento, o estudante percebe o grau de fragilidade da sua posição.

Desta forma, mais vale prevenir. Toda a informação é um verdadeiro compêndio a ser usado. Isto, sem esquecermos as formalidades legais: um contrato de arrendamento sério, onde condições e regalias estejam devidamente contempladas.

O admirável mundo de Gonçalo

O seu nome é Gonçalo Ferreira, vive na Barra (Aveiro). Tem 21 anos e está no 2º ano de Medicina Dentária. Veio para o Porto porque «o curso é muito complexo e eu não podia ir e vir diariamente». A sua história de encontrar alojamento no Porto é, até hoje, quase perfeita. Não teve necessidade de procurar habitação: «Fui convidado por uns amigos da Barra que tinham uma espaço disponível em casa». Da decisão até à deslocação para o Porto foi um ápice: «Vim para uma casa tipo T5, grande e espaçosa. Um verdadeiro luxo!».

O preço da renda é de 170 euros/mês: «Não me queixo… há que pagar um preço pela comodidade…». Além disso, Gonçalo reconhece o valor da proximidade com a Universidade onde diariamente estuda. Por outro lado, no seu caso, não revela dificuldades em habitar com mais quatro pessoas numa mesma casa: «Esses são os que cá dormem porque, durante o dia, a minha casa é um frenesim constante de pessoas a entrar e a sair», conta, sem esconder um largo sorriso. Alguma desvantagem? «Sou um privilegiado! Até hoje, não vislumbrei nenhuma». Para já, Gonçalo prefere falar das vantagens: «Tenho aprendido muito. Por exemplo, a cozinhar. Hoje, sinto que sou muito mais desenrascado e independente».

A um passo da Universidade

Uma outra estudante de Medicina Dentária, Liliana Santos veio para o Porto há quase dois anos. O primeiro ano não foi fácil. Nessa altura, valeram-lhe os amigos. Em breve, terá a companhia do irmão, que vem juntar-se com o objectivo de se licenciar em Contabilidade pelo ISCAP. Neste cenário, «a solução foi, depois de fazer bem as contas, comprar um apartamento mesmo ao lado da Universidade Fernando Pessoa».

Com essa estratégia, «chegar à Universidade só leva dois minutos». Uma condição que, nas palavras de Liliana, «dá imenso jeito!». Quanto ao facto de habitar com o irmão, o entusiasmo já não é tão declarado: «Não é mau de todo… Aliás, estar sozinha era o que mais me custava». Melhor seria que o irmão estudasse no mesmo estabelecimento de ensino e, de preferência, no mesmo curso: «Assim, teria com quem estudar… sem sair de casa». Ainda um pouco desintegrada, Liliana explica que o apartamento é recente e os vizinhos ainda não chegaram.

A Helda tem 19 anos. A Sofia já fez 20. A primeira está em Comunicação. A segunda, em Engenharia. Em comum, têm a UFP e a naturalidade: Monte Fralães, nos arredores de Barcelos. Vieram ambas para o Porto para estarem mais próximas do local de estudo. Mas, admitem que não tiveram grande sorte nas primeiras soluções habitacionais que encontraram. O problema era o quarto que alugaram, na zona de Cedofeita: «A localização era boa e a casa não era má. Até tínhamos a serventia total». Contudo, com a senhoria a viver no andar de cima e com a presença de duas outras jovens que dividiam um segundo quarto, a privacidade nunca abundou.

A solução foi mesmo mudar de ares: «Agora estamos em S. Mamede de Infesta. Não é longe da Universidade e, além do mais, é um apartamento só para nós!». Por outro lado, consideram a renda acessível, embora tenham ainda de pagar água, luz e gás. «Nada de outro mundo», dizem. Até porque: «Agora entramos e saímos quando queremos. E isso não tem preço».

Um quarto no sétimo andar

Nelson Ferreira estuda Ciências da Comunicação é de Vila das Aves. Está no 4º ano, mas só muito recentemente decidiu vir morar para o Porto: «Precisava desta proximidade física com a Universidade». Garante que esse aproveitamento não se vê nas notas avaliativas, mas na forma como as alcança: «Não estudo tanto e ando bem mais relaxado. Ir e vir todos os dias, representava um grande desgaste». Assim, Nelson alugou um quarto num sétimo andar de um edifício já habitado por alguns amigos – uma situação que ajudou à integração no novo ambiente. O problema é a renda, que Nelson considera um pouco elevada para o seu orçamento.

O seu senhorio nunca colocou dificuldades a Nelson, ou aos seus companheiros de casa. Mas nem sempre a relação entre senhorios e inquilinos é fácil. Neste aspecto, pode encontrar-se de tudo: mais ou menos simpáticos; mais ou menos complicados; compreensivos ou não; muito, pouco ou nada exigentes. Há os que querem várias garantias, e os que não querem nenhumas; os que ajudam imenso, e os que não ajudam nada; os que se metem em tudo, e aqueles que se tornam cúmplices dos jovens estudantes.

Numa perspectiva mais legalista, há os que passam recibo, e aqueles que se ficam por um contrato verbal, evitando todas as burocracias. Mas as situações podem ser ainda mais complicadas: alguns senhorios não conseguem sequer apresentar uma licença de habitabilidade – requisito necessário para obter um subsídio de Arrendamento Jovem. Outros apresentam licenças caducadas. E ainda os que nem sequer sabem o que é uma licença. Mas há uma coisa que, aparentemente, nenhum deles esquece: a data limite para pagar a renda.

Sem comentários: