26 junho, 2004

Mulheres: o sexo (cada vez)mais forte

As mulheres constituem, hoje, a maior parte da população portuguesa. Estão a tornar-se o sexo mais numeroso na estatística das pessoas com formação académica superior. Mas continuam a ser discriminadas. Os números das organizações laborais dizem que são raros os casos de mulheres nos quadros superiores, ou em lugares de poder. Mas essas mesmas entidades revelam que a situação tem evoluído para um cenário mais igualitário.

Por: Sérgio Pires

O papel das mulheres na sociedade portuguesa tem-se alterado substancialmente nas últimas décadas. No período pós-25 de Abril, as mulheres portuguesas começaram a conquistar novos espaços sociais. Logo a seguir à revolução de 1974 houve um conjunto de alterações legislativas significativas, como a lei do divórcio, a generalização do voto a todas as mulheres em todos os actos eleitorais, ou o abandono da premissa da inferioridade da mulher solteira ou casada perante o pai ou o marido. Essas alterações legislativas assumiram, constitucionalmente, o princípio da igualdade e da não-discriminação. No entanto, em muitos casos, não foi pensada nenhuma estratégia para atingir essa situação de igualdade.

Como refere Inês Machado Pereira, membro de um grupo de trabalho ligado ao partido Bloco de Esquerda, «as grandes conquistas das mulheres situam-se, sobretudo, na área da criação de legislação, apesar das estratégias para a sua aplicação não terem sido pensadas atempadamente». Exemplo disso mesmo é o papel que as mulheres têm vindo a ocupar, por exemplo, no mercado de trabalho: uma situação que é, muitas vezes, fruto de uma situação de necessidade financeira. Teresa Toldy, do Centro de Estudos de Antropologia Aplicada da Universidade Fernando Pessoa, concorda com esta visão: «O trabalho das mulheres é actualmente muito importante para o agregado familiar».

No entanto, importa ressalvar que entre as gerações mais novas, começa a ver-se uma inversão deste modelo de pensamento. Para Teresa Toldy, «a presença da mulher começa a sentir-se mais em áreas que antes estavam reservadas a homens. Por outro lado, estes não têm o protagonismo que deviam ter nas famílias, dentro de casa e na educação dos filhos. E convém sempre referir que os homens não sentem tanto a dificuldade de conciliar a carreira com a família».

A vez e a voz delas

As organizações feministas têm dado voz às mulheres que dizem lutar por uma sociedade mais igualitária. Contudo, existem também movimentos que quase se caracterizam por serem um «machismo invertido». Apesar desta dicotomia, Inês Pereira considera que as organizações feministas têm um papel essencial no processo emancipador. Na sua opinião, as teorias feministas são extremamente vastas e transportam consigo a preocupação com muitas outras formas de discriminação: «Não se limitam a pensar em termos de género, mas analisam a sociedade como um todo, à luz do princípio da igualdade, da emancipação das oprimidas e do respeito pela pluralidade e diferença».

Que pensam eles?

Que opinião têm os homens sobre a emancipação das mulheres? Inês Pereira tem uma opinião: «Há um grande desconhecimento, tanto da parte dos homens como das mulheres, sobre a história do processo da emancipação feminina. Uma visão que creio ser mistificada e estereotipada». Na sua perspectiva, «analisando atentamente os dados sobre as relações entre homens e mulheres, em casa, na política, no trabalho, na cultura, e na religião, é relativamente fácil verificar-se uma desigualdade gritante mascarada sob a capa de uma igualdade legal muito poucas vezes aplicada», sublinha Inês Pereira. Uma desigualdade que, frequentes vezes, passa despercebida para muitos.

A cultura patriarcal

Em Portugal as mulheres têm ainda um longo caminho a percorrer para que a sociedade tenha níveis de igualdade sexual aceitáveis. Para as activistas feministas, é necessário continuar com o processo de discriminação quotidiana, bem como com a partilha das tarefas domésticas. Para Inês Pereira é ainda necessário sair do âmbito da igualdade legal e do politicamente correcto. De acordo com Teresa Toldy, o principal é que vivamos melhor, não querendo substituir uma cultura patriarcal por uma cultura feminista.

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