26 junho, 2004

Visionarium

As perguntas são antigas: Como evoluiu a vida na terra? Qual será o meu peso em Marte ou em Plutão? Quanto pesa o meu cérebro? O avião é tão pesado, transporta tanta gente, como é que ele consegue voar? Será que o meu peso da Terra é igual ao da Lua? A resposta a muitas destas questões pode ser encontrada em Santa Maria da Feira… no Visionarium.

Por: Ana Pinheiro

Ciência é sinónimo de conhecimento certo e racional sobre a natureza das coisas. No Visionarium, pretende-se mostrar algumas das facetas desse conhecimento, num complexo de artefactos interactivos e facilmente compreensíveis para os mais jovens. Este centro não se dispersa nem se perde em pormenores. Pelo contrário, num estilo informal mas lúdico, o Visionarium apresenta todo o enquadramento fundamental do conhecimento científico, enquanto vai interligando as peças de histórias apaixonantes como as da Vida, da Terra, da matéria, e do Universo.

O Visionarium é sinónimo de um sonho que se pode experimentar. O equipamento científico deixa os seus visitantes tocar, cheirar, ouvir, interagir com instrumentos que explicam os fenómenos. Tudo para provar que a ciência não é complicada.

Explorar emoções

Situado em Santa Maria da Feira, a 30 km do Porto e a 45 km de Aveiro, o Visionarium – Centro de Ciência do Europarque - é um museu de ciência, interactivo, constituído por seis salas e destinado a jovens dos 8 aos 88 anos. O tema escolhido para as exposições é o da exploração, interligando os Descobrimentos Portugueses com os eventos históricos que contribuíram para o desenvolvimento científico, económico e social do Mundo.

Cada sala revela um testemunho dos Grandes Exploradores e, à medida que nos fala, a curiosidade pelo Mundo que nos rodeia começa a surgir com interrogações e a permanente busca de respostas. A partir daí, começamos a partilhar a paixão e as emoções das personagens que inspiraram as maiores descobertas da História da Humanidade.

Logo à entrada, os olhos não podem deixar de reparar na abóbada interior, fazendo lembrar a de um observatório, contraposta por uma rosa dos ventos desenhada sob o pavimento. A primeira sala reflecte a continuidade com essa rosa dos ventos. Mas, aqui, a longitude e a latitude são os temas dominantes. É a ‘Odisseia da Terra’, a sala "Magalhães". E é o próprio navegador virtualmente apresentado que nos convida a descobrir os conceitos e noções cientificas ligados à exploração do nosso planeta.

É na ‘Odisseia da Terra’ que, de forma lúdica e prática, podemos compreender o funcionamento da bússola ao GPS. E é também aqui que percebemos como consegue um avião suster-se no ar, ou porque flutuam os barcos de ferro.

Na ‘Odisseia da Matéria’ - sala de Mendeleiev - a mensagem do químico russo é clara: a matéria está omnipresente e é impalpável. A chave para o problema: observar, reflectir, compreender e experimentar. Num jogo de recomposição do mundo, o visitante toma conhecimento e interage com todos os estados da matéria – sólido, líquido, gasoso e plasma – e observa as suas propriedades eléctricas, magnéticas ou comportamentais. Em lugar de destaque, encontra-se a famosa tabela periódica construída por Mendeleiev. Mas, desta vez, numa versão interactiva.

À medida que a curiosidade por mais se vai aguçando, o monge Mendel, pai da genética, surge ao visitante e transmite-lhe uma mensagem fascinante: os seres humanos são todos únicos, mas ao mesmo tempo mais parecidos entre si do que diferentes. Entramos na ‘Odisseia da Vida’. Como evoluiu a vida na Terra? O que é o ADN? Neste sector podemos, igualmente, perceber que, muitas vezes, somos enganados pelos nossos sentidos, por exemplo, o olfacto (o visitante tem de tentar adivinhar os cheiros contidos em caixas especialmente preparadas para o efeito), ou a visão (onde tem de compreender porque razão os olhos recebem as imagens invertidas e só depois o cérebro as corrige).

Após o visitante deixar a escada rolante, depara com Hubble, famoso astrónomo que nos fala da imensidão do Universo deixando transparecer o local humilde que o Homem ocupa. Entramos na ‘Odisseia do Universo’, onde o podemos observar a terra, a lua e o sol. Até ao infinito. É nesta Odisseia que podemos verificar o nosso peso nos diversos planetas, ou como funcionam os telescópios. De seguida, são apresentadas algumas das implicações das viagens ao espaço. A que mais suscita interesse é, sem dúvida, o vácuo – ausência de som e vento, e o lançamento de um foguete.

O mundo da informática está sempre em desenvolvimento, pelo que não foi escolhido um explorador científico como anfitrião da sala. Na ultima odisseia, a da Informação – sala 0110 - a nossa imagem surge num ecrã junto duma personagem híbrida - homem-máquina - que nos faz perguntas. Com um aspecto de circuito impresso, o visitante é convidado a conhecer o mundo dos computadores e a formalidade da lógica informática. Como é um computador por fora e por dentro e o funcionamento de dispositivos como CD-ROM, o rato e o ecrã, tudo é explicado através de modelos.

Enquanto descemos, para mais uma aventura no Visionarium, o homem-máquina que nos recebe, ainda tem algo para nos dizer: "Pssssst! Pssssst! Então, já vão embora?...".

Alegrias e supresas

Jorge Teixeira, da Direcção de Marketing Comercial do Visionarium desde 1999, queixa-se de que os apoios são escassos: «Na altura, o projecto teve muitos, grande parte foram capitais próprios da Associação Empresarial de Portugal (AEP), mas tudo mudou talvez devido às carências que existem no mercado em termos de valências cientificas dos recursos humanos. Porque há uma carência grave em termos de apetência para as ciências, para as novas tecnologias...».

A ciência para muitos é complicada, ou reduz-se a uma parte. Mas essa não é a visão de Jorge Teixeira: «Portugal é um país de poetas e de escritores, com uma cultura mais literária, do que científica. Isso apesar de na época quinhentista termos sido um dos países mais evoluídos em termos científicos. Mas eu fico com a ideia de que o que se valoriza mais dessa altura é o espírito explorador, o espírito aventureiro dos nossos descobridores...».

Quanto à divulgação da Ciência, Jorge Teixeira não hesita: «Este tema cada vez mais afecta o nosso quotidiano e pode ter uma influência cada vez maior no nosso modo de vida». O Visionarium já foi distinguido, no ano 2000, com uma Menção Honrosa no âmbito do prémio Museu Europeu do Ano. Mas as alegrias surgem todos os dias: «Recentemente, veio cá uma pessoa que está uma fazer uma tese de doutoramento sobre museus científicos em Portugal. Ficou completamente espantada, confessando que o Visionarium é o museu mais parecido com o que estava habituado a visitar no estrangeiro», diz Jorge Teixeira.

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