26 junho, 2004

Requalificação de Gaia

Gaia está diferente. Junto ao rio Douro, há uma nova cidade nascida de vários projectos: um novo espaço onde música, cheiros, cores e sabores se misturam criando um ambiente desenhado para o lazer. As alterações na marginal de Gaia são bem visíveis. Remova-se o caos gerado pelas obras do Metro, e a paisagem da ‘rive gauche’ do Douro atrai.

Por:Liliana Leandro

A necessidade de recolher os esgotos da parte mais antiga da cidade de Gaia (escarpa da serra do Pilar e armazéns de vinho do Porto) para despoluir o rio Douro, levou a que a empresa municipal Águas de Gaia, responsável pelo saneamento da cidade, instalasse um tubo emissário por toda a costa, capaz de transportar os resíduos até à estação de tratamento na Madalena.

A colocação desse tubo, desde a Ponte D. Luís I até à ETAR, implicou o levantamento dos arruamentos que, juntamente com os passeios, foram reconstruídos ao longo dos cinco quilómetros compreendidos pela obra. O custo total do projecto foi de 12.5 milhões de euros (cerca de 2.5 milhões de contos), financiado pelo fundo de coesão europeia em cerca de 70%. Mas o resultado foi considerado um sucesso, do ponto de vista do melhoramento das infraestruturas.

Cais de Gaia quer ser um novo espaço de animação e lazer

Mesmo junto ao Douro, e em frente às caves de Vinho do Porto, ergue-se um edifício peculiar pelas suas características e aspecto inovador. Inaugurado em Maio de 2003, o Cais de Gaia é já um sucesso na noite gaiense. Este novo espaço de lazer é procurado a qualquer hora do dia por quem quer usufruir dos mais de 27 mil metros quadrados de explanadas, lagos, bares e cafés.

A obra começou em Dezembro de 2000, em paralelo com a instalação do emissário pela Águas de Gaia. As frentes de água representam, inevitavelmente, uma atracção turística. A ideia nem sequer é nova: veja-se a Expo-98, actualmente o Parque das Nações, em Lisboa. Em Gaia, esta estrutura veio reconverter um espaço «outrora desconfortável e sem restauro possível», como explica Nuno Rodrigues, da empresa Douro Cais.

Com cerca de 30 estabelecimentos comerciais, o Cais é um espaço pensado para poder acolher pessoas de todas as idades e classes sociais, tornando-se, indubitavelmente, num pólo de atracção para o concelho. Os 10 milhões de euros (cerca de 2 milhões de contos) de investimento privado parecem estar a dar o seus frutos: muitos são aqueles que, como João Cândido, estudante de 24 anos, se passeiam neste espaço em busca de «um ambiente aconchegante onde se possa ter uma conversa entre amigos». Já Magda Azevedo, de 23 anos, prefere o Cais «pela variedade de bares e pelo bom ambiente».

A variedade de bares é um dos pontos mais referidos para a escolha deste recinto que, na opinião de Diogo Assunção, de 19 anos, «trouxe sem dúvida benefícios para a cidade de Gaia». Os preços praticados pelos estabelecimentos geram, no entanto, alguma discórdia, já que são muitos os utilizadores que os consideram excessivos: «Acho que há algum exagero», critica Magda Azevedo.

Uma nova cara

A cidade de Gaia possui uma vasta costa com praias bastante procuradas na época balnear. Esta adesão ao litoral gaiense tem justificado, para os responsáveis autárquicos, a forte intervenção urbanística e o avultado investimento financeiro. Junto a essas praias foi construído um passeio pedonal onde os transeuntes podem desfrutar dos benefícios que o ambiente à beira mar e o ar livre podem oferecer.

Numa tarde ensolarada de domingo, ou mesmo ao fim do dia, muitos são aqueles que procuram este espaço. «A obra foi feita no sentido de requalificar a zona e de dar às pessoas condições para poderem usufruir de um bem que está tão perto de nós: o mar e a praia», esclarece Claro Costa, engenheiro responsável pelo projecto.

Esta obra junto ao mar, integrada no Plano Nacional de Ordenamento da Orla Costeira, visa, ainda, a contenção da expansão urbana, a valorização da diversidade biológica e paisagística e a ordenação dos areais e frentes de mar.

Diferentes rumos

Concluídos os projectos levados a cabo pela Águas de Gaia, Câmara de Gaia e Douro Cais, levanta-se a questão do rumo a seguir. Se por um lado os arruamentos estão reconstruídos, permitindo um maior acesso à zona, por outro, existe um enorme manto de armazéns de vinho do Porto que, na opinião de António Martins, da Câmara de Gaia, «se irão deslocar para a zona do Douro, já que a capacidade de armazenagem é muito maior e os custos de mão-de-obra inferiores».

É tomando este panorama como base que a Câmara de Gaia pretende criar espaços de cultura para atrair novos públicos. A Real Companhia Velha poderá ser transformada no futuro Centro Cultural de Gaia, e há planos para a restauração do convento de Corpus Christi, que prevê a sua reconversão num hotel de charme.

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