28 maio, 2005

Liga dos Amigos do Centro Hospitalar de Gaia

Por: Joel Silva

9:00 horas da manhã. Hospital Santos Silva, Vila Nova de Gaia. Nos corredores vão-se aglomerando dezenas de pessoas com consulta marcada. O ritmo lento com que se processa o atendimento faz desesperar o mais calmo dos mortais. Surge então o serviço de cattering disponibilizado pelos Voluntários da Liga dos Amigos, do Centro Hospitalar de Vila Nova de Gaia.

Este serviço só é possível graças «à grande contribuição do Banco Alimentar», de acordo com Olímpio Ferreira, médico-reformado, vice-presidente da instituição de apoio hospitalar, que alberga cerca de 160 voluntários.

A Liga de Amigos do Hospital de Gaia nasceu há 15 anos. As suas motivações altruístas e de invulgar solidariedade são os alicerces do crescimento e importância patenteada nos últimos anos, que eleva a instituição a uma das mais emblemáticas do concelho de Gaia.

«É, de facto, com orgulho, que todos temos acompanhado o crescimento desta instituição. O mérito pode ser repartido por muitos, desde os voluntários, até às administrações do Hospital Santos Silva, que sempre contribuíram de uma forma activa para o bom funcionamento da mesma», refere este antigo profissional da medicina.

Dina Barbosa, é uma dessas 160 voluntárias. Reformada, Dina já leva mais de sete anos de voluntariado, tempo esse que tem servido para a mesma «enriquecer a todos os níveis, através da ajuda a doentes e pessoas internadas carentes de apoio». É este sentimento de solidariedade que reina e faz com que todos tentem convergir no lema e bandeira da instituição.

Conta Ilda Carvalho, outra voluntária, que «por vezes é extremamente difícil confrontarmo-nos com um paciente que tem uma doença terminal, ou irá ser brevemente amputado. Nessas situações resta-nos dar toda a nossa atenção e carinho». Ilda cumpre as suas funções no departamento de cirurgia vascular. O quotidiano desse departamento obriga-a a enfrentar situações de angustiante sofrimento físico e psicológico. «Temos de ser fortes - diz a voluntária - são de facto muitos aqueles que, perante a adversidade pensam em desistir, simplesmente deixar de lutar», conclui.

Se não é fácil acordar e depararmo-nos com uma realidade completamente transfigurada, mais difícil é ver aqueles que nos são queridos sofrerem constantemente, sem nada a fazer. É esta a história de Lucinda Torres, 55 anos, desempregada, que na altura desta reportagem cumpria o primeiro dia de voluntariado na Liga dos Amigos do Centro Hospitalar.

A vida pregou-lhe uma partida cruel, já que a sua mãe padecia de uma grave doença, o que a obrigou a abdicar da sua vida activa. O tempo que passou nos cuidados médicos com a mãe, levou-a a conhecer este grupo de pessoas e prometeu: «no dia em que a minha mãe partir, irei ser mais uma». Promessa cumprida, Lucinda é duplamente feliz.

A história de Lucinda é um factor comum entre muitos dos voluntários que aderiram à liga depois de se terem confrontado com uma tragédia familiar, ou no seio dos que os rodeiam. Muitos são aqueles que fazem do seu tempo livre um espaço de intervenção e conforto para aqueles que mais necessitam.

A receptividade por parte dos doentes é, por norma, acolhedora, embora haja casos de isolamento extremamente difíceis de combater.

Balbina Correia, 72 anos, esteve internada cerca de duas semanas devido à fractura de uma perna. Salienta o importante papel dos voluntários que privaram com ela durante a sua curta estadia: «É gente formidável. Nos dias que correm, é normal acharmos que existem só pessoas que pensam primeiro em si e só depois nos outros. Ainda bem que isso é mentira e quero acreditar que, como muitos voluntários, ainda há muita gente boa espalhada por esse mundo fora». Opinião partilhada por Lurdes Maria, 85 anos, e que parece ser, sem duvida, o sentimento dominante entre os muitos que já foram tocados por esta causa.

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