28 maio, 2005

Fuga ao desemprego

Se antigamente um “canudo” era a chave para se ser alguém na vida, hoje em dia apenas é um papel entre tantos iguais. Com a entrada de Portugal para a União Europeia, os horizontes alargaram-se deixando espaço para o desenvolvimento. Mas se, por um lado o desenvolvimento é positivo, por outro, parece dificultar cada vez mais o dia-a-dia.

Por: Cátia Videira

O mesmo pensa Maria Clara Silva, uma desempregada com 57 anos: «é muito complicado. As firmas fecham, saem de Portugal e cada vez o desemprego é mais elevado!» Maria Clara sente a idade pesar, o que não ajuda nada «...sendo mais de 50 anos, já não me aceitam em lado nenhum!...»

Pela experiência de vida que Maria Clara tem, a solução para acabar com o desemprego era muito fácil: «as firmas deveriam chegar a um acordo, ou seja, abrir empresas que oferecessem um certo salário (por exemplo, €250). Depois, quem quisesse esse ordenado base ia, quem não quisesse, não ia! Penso que evitaria a procura de mão de obra mais barata fora do país», sugere.

No entanto, e apesar da crise, hoje em dia quem está no desemprego é visto com maus olhos. Rita Abrantes, educadora de infância sem trabalho, diz-nos que «as pessoas não nos encaram: há sempre uma cara estranha e há sempre a resposta “não queres é trabalhar!”...É muito difícil numa situação destas arranjar ânimo para continuar a lutar». Para esta jovem de 30 anos, Portugal teria de «criar melhores condições de trabalho» pois, para ela, muitas vezes «existem os postos de trabalho, mas não têm condições» o que não aumenta a competitividade.

Por seu lado, os apoios do Estado também são poucos, no entanto «o fundo de desemprego não deveria acabar, pois a qualquer hora podemos estar na rua», afirma Elvira Lopes, de 45 anos, empregada de limpeza, «apesar de, para certas pessoas ele ser uma miséria, as despesas são certas e é tudo muito complicado sem alguma ajuda...»

Muitos dos desempregados nesta situação acabam por se endividar ao pedir emprestado para sobreviver. Elvira Lopes teve sorte: conseguiu emprego. Não foi bem na área que procurava, no entanto, diz ter tido «melhorias na vida, pois sempre é um ordenado fixo no fim do mês». Assim, Elvira aconselha a lutar com persistência, pois «lutando pode-se sempre arranjar alguma coisa porque estar no fundo de desemprego não chega...!».

Exemplo de sucesso

Quando entramos num centro de emprego, encontramos pessoas de qualquer faixa etária, e isso é desanimador. Porém, nos dias de hoje, ideias empreendedoras vão surgindo.

Na zona de Viseu está em construção uma Ecopista no desactivado ramal ferroviário do Dão, entre Viseu e Figueró. Este espaço será dotado de um espaço central, com três metros de largura, revestido a “flurry” (um material aderente), destinada à circulação de bicicletas, cavalos e outros meios de transporte.

Mas o que este espaço tem de verdadeiramente espantoso é o facto deste investimento contemplar exclusivamente jovens licenciados no desemprego, em particular, na área da Educação Física.

Fernando Ruas, presidente desta autarquia, refere que se pretende que «seja assegurado o acompanhamento dos utilizadores da Ecopista; que promovam acções pedagógicas, orientando e ensinando práticas desportivas básicas, como correr ou andar de bicicleta correctamente».

Embora este trabalho só vá ser desenvolvido aos fins-de-semana, visto que é nesses dias que se prevê uma maior utilização da futura estrutura de lazer, os concorrentes não perdem coragem e garantem que se vão esforçar.

Como garante Elvira Lopes, os desempregados dos dias de hoje podem vir a ser «os génios do futuro», basta poderem ter uma oportunidade para que tal aconteça

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