26 janeiro, 2005

Guimarães: o lugar que viu nascer Portugal

A cidade do 1º Rei de Portugal, D. Afonso Henriques, foi considerada Património Mundial pela UNESCO. Que tipo de metrópole se ergueu no decorrer dos tempos? Guimarães alargou a sua esfera existencialista no seio das cidade modelo, referencial para outras que devam ter como presente a conservação dos seus monumentos, da sua história, da sua alma.

Por: Pedro Oliveira

Guimarães é uma cidade mítica, lendária, que das profundezas da sua alma viu nascer Portugal. Guimarães, paralelamente à azáfama dos estudantes e trabalhadores que a envolvem todos os dias, detém em si uma circunstância histórica para lá da zona delimitada da muralha. Qualquer casa, rua, praça ou monumento é um espaço de estudo próprio, um vasto campo para um olhar em variadas perspectivas.

A paisagem urbanística faz-nos recuar no tempo. A praça da Senhora da Oliveira é o local por excelência daqueles que gostam de passar o fim de tarde numa esplanada e, ao mesmo tempo, contemplar a igreja de fachada gótica com o mesmo nome. Nas imediações dessa igreja poderá observar-se o Padrão da Vitória, constituído para ser um lugar de devoção. Daqui chegava e partia tudo de importante na vila: o mercado, as notícias, o sagrado e o profano.

Este era um espaço de sociabilidade que o tempo não fez esquecer. Nas ruas e vielas que circundam a praça encontram-se as casas, quase sempre, de rés-do-chão e dois pisos, que conferem à cidade todo o esplendor histórico que a caracteriza.

O castelo é um dos monumentos com maior carga simbólica que tornam esta cidade o berço da nação. Mandado construir no séc. XII por Mumadona Dias, detinha como função proteger a população de eventuais ataques dos invasores. Terá sido neste castelo que D. Afonso Henriques resistiu, em 1127, ao cerco imposto por Afonso VII de Leão e Castela. Situado na colina do castelo e ocupando uma posição sobranceira ao burgo medieval amuralhado da cidade encontra-se o 2º monumento de maior importância na panorâmica arquitectónica de Guimarães: o Paço dos Duques de Bragança. Este importante paço feudal foi mandado construir no séc. XV, na tentativa de afirmar uma imagem de construção que se aliava à monumentalidade que o conforto da época exigia.

Guimarães candidatou-se a Património Mundial, título que é atribuído pela UNESCO. Para se compreender o que levou a que o seu nome fosse considerado uma cidade Património Mundial, Francisca Abreu, vereadora do pelouro da Cultura deste município, referiu «que o facto de Portugal ser a nação mais antiga da Europa à qual Guimarães está directamente associada, por si só, eram critérios relevantes», acrescentando que o facto do «património não ter sido destruído ou delapidado ao longo dos tempos é uma condição, à priori para ter estruturas arquitectónicas que pudessem ser sujeitas a critérios de avaliação».

Houve todo um processo, com pré-avaliações por parte da UNESCO, para se fazerem acertos na reabilitação. De realçar, nesta regeneração, que o processo de labuta que se adoptou foi feito em consonância com a população.

O gabinete técnico local envolveu sempre as populações, um trabalho porta-a-porta que considerou a voz e a razão dos habitantes. Segundo a responsável pelo pelouro da Cultura o processo de reabilitação passou por três fases: intervenção nas praças públicas e edifícios públicos; reabilitação comercial e reabilitação das casas privadas. «Foi adoptado um método pedagógico de contacto com as pessoas com uma equipa técnica em contacto com os visados na explicitação de alterações consideradas pertinentes», refere a responsável.

Guimarães é um símbolo da identidade nacional e os vimaranenses foram participantes activos na construção de uma história passada, mas paradoxalmente virada para o futuro.

Inicialmente, esta vila foi um centro de aperfeiçoamento de técnicas de edificação para construção, como comprovam alguns edifícios em cidades ultramarinas. «No Brasil, em São Salvador da Baía-Pelourinho ou nas Canárias detemos a traça de algumas técnicas de construção que se fazem notar em Guimarães. Transportamos além fronteiras a nossa vivência de estar, de viver e de fazer» sublinha Francisca Abreu.

A cidade mudou desde que lhe foi atribuído o título de Património Mundial.

Para Francisca Abreu, a responsabilidade aumentou: «agora tenta-se manter a qualidade do centro histórico e alargar a intervenção além muros, noutras periferias, acrescentando, assim, outros planos operativos, tais como, por exemplo, um cibercentro construído para a população». «Foi feito um levantamento exaustivo de todos os sítios: monumentos, fontes, quintas, paisagens de interesse patrimonial», acrescenta.

Guimarães é uma metrópole que se inscreve na alma lusitana. É uma sede de município carregada de simbolismo, na qual a sua gente tem um sentimento de orgulho e pertença à fundação deste território chamado Portugal. Uma terra com uma História que é de todos os portugueses mas, agora, do mundo também.

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