28 janeiro, 2005

Novas razões para a mais velha profissão do mundo

Por: Amanda Alves

Luciana (nome fictício), de 20 anos, veio há cerca de dois anos do Brasil. Vivia no interior do estado de Goiás, onde tinha uma vida bastante humilde. Resolveu vir para Portugal através de um convite de uma amiga que dizia ganhar muito dinheiro. Com a esperança de qualquer emigrante, partiu, rumo ao mais comum dos sonhos. «Nunca me explicaram o que vinha realmente fazer aqui em Portugal. Quando cheguei, a minha amiga disse-me que iria trabalhar num bar de alterne como dançarina. Inocentemente acreditei que fosse só isso», confessa.

Com o passar do tempo, Luciana descobriu que não seria só esse o seu trabalho, mas acabou por aceitar. O dinheiro era muito, o a motivou. «No início foi muito difícil, mas fiquei encantada com o dinheiro e com tudo o que isso poderia vir a trazer-me. Era tudo o que nunca tive. Pensei também na ajuda que poderia dar à minha família», diz Luciana. Mas também com o tempo percebeu que tudo isso era uma ilusão: «O dinheiro que se ganha fácil, vai fácil e acabo por gastá-lo nas maiores futilidades, embora viva muito bem», revela.

Luciana manda dinheiro para o Brasil mas não pensa voltar tão cedo para lá. Anseia por uma legalização prometida pelo local onde trabalha. Mas esta nunca mais chega. «Ficamos sempre à espera do dia ideal para voltarmos para o Brasil, mas esse dia dificilmente chega. Na realidade estamos acomodadas com a situação confortável em que nos encontramos».

Já Déborah, também nome fictício, que se encontra em Portugal há cerca de seis meses, diz já saber para o que vinha: «No Brasil já fazia alguns ‘programas’, para ajudar no orçamento e aceitei logo quando surgiu a oportunidade de vir para Portugal, pois iria ganhar muito mais». No entanto, diz que o tipo de prostituição que se pratica aqui é diferente. Mas vale a pena? «Vale. Os portugueses têm um fetiche pelas brasileiras o que, para nós significa trabalho», conta Déborah.

Deboráh não tem pudores quanto à profissão que exerce e mostra até uma certa satisfação pelo que faz. Considera até a prostituição como algo necessário na sociedade actual. «Nós não fazemos só sexo, mas também o papel de amigas, de conselheiras ou mesmo de simples ouvintes a homens com carências afectivas».

Giovanna, chamemos-lhe assim, tem uma opinião diferente de Déborah. Considera um sacrifício enorme a profissão que tem que exercer. Passou por várias situações traumáticas até chegar a Portugal. Como é habitual, veio também de um Estado muito pobre no interior do Brasil (Mato Grosso), onde vivia da agricultura de subsistência, juntamente com a família. Como vivia relativamente próximo da fronteira do Brasil com a Bolívia, onde o tráfico de mulheres e drogas circula em abundância e quase livremente, ela não conseguiu escapar a essa «máfia».

«Disseram à minha família que eu iria trabalhar de empregada em um bar na Bolívia e que iria ganhar dinheiro suficiente para melhorar a vida de toda a minha família. Por isso todos aceitamos», relata Giovanna. Esta jovem, que tem agora 21 anos, foi então até à Bolívia nas piores condições possíveis. Acabada de chegar ao local onde iria trabalhar (um bordel de beira de estrada), logo lhe explicaram o que tinha que fazer. Quando se apercebeu da situação, viu também que não podia fugir: não conhecia a região, não conhecia ninguém e o dono do bordel tinha os seus documentos.

Seis meses depois, disseram-lhe que ela iria para a Europa trabalhar. «Não sabia se isso seria bom ou mau, mas pior de certeza que não era. Já estava tão sofrida que aceitei. De resto, não tinha outra opção».

Assim, Giovanna chegou a Espanha. «O local de trabalho era bem melhor e as pessoas acabaram me ajudando um pouco. Conheci outras brasileiras e acabei fazendo algumas amizades. Só nesta altura é que consegui falar com minha família que nunca mais tinha ouvido falar de mim», refere. Mais tarde, juntamente com uma amiga, resolveram vir para Portugal.

Há um ano que Giovanna trabalha num bar de alterne em Portugal. «Hoje já me acostumei à situação e nem sequer reclamo mais dela. Ganho bem e o resto, a parte desagradável, tento não pensar nela, para não ir abaixo. Ajudo sempre a minha família, embora eles não saibam o que faço de verdade. Num futuro próximo, pretendo voltar para a minha terra e ter uma vida simples mas pura», espera.

Cada qual com a sua história, cada qual com a sua razão, continuam a existir justificativas para a mais velha profissão do mundo. Mudam-se apenas os conceitos, mas a ideia original permanece. E é difícil mudar.

Um pouco de história...

Desde a antiguidade que se ouve falar em prostituição. Em muitas civilizações, a prostituição era praticada por meninas como uma espécie de ritual de iniciação quando atingiam a puberdade. No Egipto Antigo, na região da Mesopotâmia e na Grécia, as prostitutas, consideradas grandes sacerdotisas, portanto sagradas, recebiam honras de verdadeiras divindades e presentes em troca de favores sexuais.

Mais adiante, na época em que a Grécia e Roma polarizaram o domínio cultural, as prostitutas eram admiradas. Tinham, porém, que pagar pesados impostos ao Estado para a prática da sua profissão. Deveriam também utilizar vestimentas que as identificassem. Caso contrário, eram severamente punidas. Na Grécia, existia um grupo de cortesãs - chamadas de hetairas, ou heteras - que frequentavam as reuniões dos grandes intelectuais da época. Eram muito ricas, belas, cultas e de extremamente refinadas, exerciam grande poder político e eram muito respeitadas.

Com o advento do cristianismo, na Idade Média, houve a tentativa da eliminação da prostituição. Porém, existia o culto do casamento cortês, onde a política e a economia se sobrepunham aos sentimentos e as uniões eram arranjadas somente por interesse, reforçando a prostituição. Em muitas Cortes, o poder das prostitutas era muito grande: muitas tinham conhecimento de questões do Estado, tanto que a prostituição passou a ser regulamentada.

Assim foi evoluindo a prostituição até chegar aos dias de hoje. Actualmente, é uma profissão muito mal aceite para a maioria das pessoas e, na maior parte dos países, é uma prática proibida. Isso não faz com que o número de prostitutas diminua. Antes pelo contrário, pois tem aumentado cada vez mais.

No caso de Portugal, este número tem vindo a crescer cada vez mais com a chegada de prostitutas brasileiras que têm inundado os bordéis e as chamadas "casas de alterne".

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