28 janeiro, 2005

Vincent Dioh: o mundo através da pintura

Por: Amanda Alves

Vincent Dioh tem nove anos de idade. Aos três foi-lhe diagnosticado autismo, uma perturbação no desenvolvimento. Por essa razão, Vincent não fala. No entanto, desde cedo começou a revelar uma tendência para a pintura: uma outra forma de expressar o que lhe ia na alma. «Começou por buscar canetas e lápis ao escritório de casa e riscava todas as paredes e brinquedos que encontrava», lembra Zélia Rocha, a mãe do menino.

A partir daí, e com o incentivo e apoio de Zélia, Vincent passou a transformar tudo o que tinha ao alcance em quadros e nunca mais deixou de pintar. Apesar de ser filho do pintor Mustapha Dioh, Vincent não herdou as características da sua pintura. Utiliza técnicas únicas no mundo, servindo-se de réguas, colheres e das suas próprias mãos, em vez do tradicional pincel. Acompanha ainda a realização das suas obras com música ambiente.

O seu atelier improvisado mostra-nos a ligação corporal que tem com as tintas e com suas pinturas. O chão e as paredes forradas a papel estão cobertas de um emaranhado de cores que escapam aos quadros.

Fora do atelier, as obras de arte desta criança também são uma presença constante, com quadros espalhados com cuidado pelas paredes, por cima das camas, pelo chão. Algumas estão encaixotadas.

As suas pinturas são abstractas e simbólicas, com uma grande diversidade e exuberância de cores que transmitem dinamismo e movimento. Está bem patente, também, a multiplicidade de imagens sobrepostas num mesmo quadro.

Em qualquer uma das obras, a mãe de Vincent Dioh consegue sempre encontrar uma interpretação e um significado, como é o caso de algumas obras que interpreta como sendo a vida de Cristo: a sua crucificação, o sudário, passagens da Sua vida.

Zélia Rocha já organizou quatro exposições com as obras do filho, mas quer organizar outra: «O Vincent pinta muito depressa e faz muitos quadros e, por isso, já tem muitos que merecem ser mostrados». Inicialmente, Vincent pintava todos os dias, mas como o material de pintura é muito caro, a mãe impôs-lhe dias para pintar.

Durante a semana, Vincent frequenta uma escola do ensino especial, onde já está a aprender a ler e a escrever. Para além disso, é acompanhado com frequência por um médico e uma psicóloga especialista. Quanto ao futuro de Vincent, a mãe prefere não pensar nisso: «Com ele aprendi a viver apenas o presente. Tenho esperanças, mas não tenho expectativas. Penso que Vincent continuará com a pintura que, a cada dia, se revela melhor e mais complexa. Quanto ao resto não sei. Só posso garantir que farei sempre tudo que estiver ao meu alcance para fazer o que for melhor para o meu filho, como tenho feito até agora. Com Vincent reaprendi a viver».

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