26 janeiro, 2005

Barrinha de Esmoriz

Muito se escreve e se fala da necessidade de protecção do meio ambiente. Pouco ou nada se faz. Esquecem-se os problemas ambientais ou, simplesmente, ignoram-se?

Por: Maria Helena Oliveira

Quando entrámos pela primeira vez no Palheiro Amarelo, adquirido e reabilitado pela JUVEDREP (Juventude Desportiva e Recreativa Esmoriz Praia), percorremos as suas divisões e tivemos a sensação de estar numa visita guiada pela Barrinha de Esmoriz. Ao longo das paredes estão espalhadas fotografias da lagoa e podemos ver, com clareza e nitidez, os barcos atracados e a sua ligação natural com o mar. Surge, entretanto, uma dúvida: Era esta a lagoa? Somos, então, convidados a um regresso ao passado.

No monitor do computador as dúvidas começam a dissipar-se. Era um filme dos anos 70. Mesmo sem som, conseguíamos ouvir os risos e a satisfação daqueles que lá estavam. A lagoa tinha águas cálidas e transparentes, realizavam-se campeonatos de voleibol e natação e faziam-se passeios de barco. Era um local de convívio e de lazer.

Enquanto vemos o filme, José Ribeiro e Pedro Cunha, elementos da JUVEDREP, falam, com tristeza, do estado actual da lagoa. José Ribeiro recorda que, à semelhança de outros habitantes da terra, também ele aprendeu a nadar nas águas da Barrinha.

O caminho da degradação

O crescimento industrial e urbanístico ditou, nos anos 80, o caminho da Barrinha de Esmoriz até aos dias de hoje. Os interesses materiais sobrepuseram-se aos interesses ambientais. A continuidade da lagoa estava ameaçada, a poluição começava a ser uma realidade. A água transparente deu lugar a uma água poluída.

As causas da sua poluição prendem-se com os efluentes domésticos e industriais porque são encaminhados para as duas principais ribeiras que nela desaguam: a ribeira de Rio Meão, na freguesia de Paramos, e a Vala de Maceda, também conhecida por Rio Lambo, na freguesia de Esmoriz. Os níveis de poluição são, no entanto, mais acentuados na ribeira de Rio Meão, devido às inúmeras fábricas de papel do concelho de Santa Maria da Feira.

Continua com vida

A lagoa, apesar de poluída, não é uma lagoa sem vida. Embora seja um espaço pequeno, é um ecossistema rico e natural repartido por dunas, campos agrícolas, pinhal e meio aquático. Em 1999, segundo o Fórum Ambiente, era possível contabilizar na Barrinha cerca de cem espécies de plantas, 190 de aves, sete de anfíbios, cinco de répteis e, pelo menos, 15 de mamíferos.

Promessas esquecidas Preocupado com os níveis de poluição na Barrinha, o então primeiro-ministro Português, António Guterres, deslocou-se, em 2000, à cidade de Esmoriz. De acordo com uma notícia publicada no jornal de Ovar, Guterres prometeu, então, aos esmorizenses, "num discurso carregado de preocupação e angústia", uma lagoa despoluída, já em 2003. Porém, foi em 2003 que a Barrinha de Esmoriz abriu todos os noticiários televisivos e primeira página de vários jornais nacionais: as sucessivas descargas desse ano interditaram as praias e culminaram na perda da Bandeira Azul.

A JUVEDREP associou-se ao Movimento Pró-Barrinha e, cansados das promessas políticas, uniram-se por uma causa: exigir a despoluição da Barrinha. Escolheram as festividades locais para organizar um buzinão em terra, ar e água e exigir um projecto despoluidor.

Arranque do Projecto

O Projecto de Despoluição da Barrinha de Esmoriz teve início em Junho deste ano e pretende reabilitar aquela que, em tempos, foi o ex-libris da cidade e se transformou no mais grave problema ambiental da zona Norte do país.

O Projecto, segundo Alcides Alves, Presidente da Junta de Freguesia de Esmoriz, tem três fases. A primeira consiste no tratamento dos efluentes industriais provenientes do Concelho da Feira, Ovar e Espinho e está a cargo da SIMRIA ( Sistema Intermunicipalizado de águas da Ria de Aveiro). As fases seguintes consistem na despoluição da Barrinha e no aproveitamento que todo aquele espaço. «Numa visão optimista - refere o autarca – espera-se que esteja concluído já em 2010».

José Sá Ferreira, considerado pela população como maior defensor da Barrinha, escreveu num dos seus livros: "A nossa lagoa, uma vez morta, é pouco crível que volte algum dia a ser ressuscitada". As expectativas são, por isso, grandes.

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