01 junho, 2006

Voluntariado: altruísmo em tempo livre

São jovens, estudam, trabalham, têm inúmeros projectos por realizar, mas o voluntariado tem sempre lugar nas suas vidas.

Por: Fátima Pereira

Todos os anos, em Janeiro, as portas do Instituto Português de Oncologia (IPO), do Porto abrem-se para novos voluntários. Maria Helena Quinta, directora deste serviço, acolhe estes jovens e ajuda-os a integrarem-se num dos dezasseis serviços que a Liga Portuguesa Contra o Cancro tem. «Fazemos uma formação geral por ano. Depois, os responsáveis de cada serviço levam os voluntários e ensinam-lhes o modo como se fala com um doente», explica Maria Helena.

O serviço preferido é o de Pediatria. «No último curso, vinte dos cinquenta voluntários foram para Pediatria e os outros departamentos ficaram com pouca gente», desabafa a directora do voluntariado.

Voluntariado forçado

A palavra ‘voluntariado’ torna-se cada vez mais comum graças à Internet ou, mesmo, pela indicação de um amigo, mas existem outros motivos.

«Há muitos universitários interessados e, até, jovens recém-formados. Aqui, aparece gente de todas as áreas...», refere Maria Quinta mas, tal como refere a enfermeira Sónia Castro: «há cada vez mais a ideia de que fazer voluntariado é enriquecedor, em termos de curriculum. Existem empresas que valorizam este aspecto, ao contratarem alguém. Só que corremos o risco das pessoas só o colocarem no curriculum e, depois, não exercerem».

O voluntariado nem sempre é feito por iniciativa própria, mas o caso agrava-se quando o voluntário passa a ser o próprio paciente. «Infelizmente, há algumas pessoas que vêm para aqui porque os psiquiatras o sugerem! ...Eles acham que os pacientes estão cá para ocupar o tempo dos voluntários, mas as pessoas que tem depressão não devem ser voluntárias, enquanto não estiverem curadas», explica Sónia.

Momentos bons e momentos maus

O dia-a-dia de um voluntário nem sempre é fácil, mas a convicção geral é de que os momentos difíceis nunca são motivo para desistir. Sónia Castro explica que «por exemplo, quando se perde um paciente implica, por vezes, mudar de serviço ou mesmo afastar-se, mas nada mais...»
Joana Fernandes, uma das voluntárias, corrobora: «todos tendem a pensar que, perante certos casos, o mais natural seria desanimar, mas pelo contrário: toda esta experiência ajuda a relativizar aquilo que a vida tem de menos bom».

Mariana Dias, de 24 anos, faz parte do grupo dos que sempre fizeram um esforço para conciliar a sua vida pessoal com o voluntariado: «quando estamos mais absorvidos pelos nossos assuntos pessoais, mais sentimos que aquelas horas de voluntariado são um desperdício, mas não há nada melhor do que dedicar um pouco dos nosso tempo aos outros. A ideia de desistir não dura mais de alguns segundos...!»

Voluntariado como vocação

O voluntariado, para alguns jovens, chega a ser algo que ultrapassa a boa-vontade e ruma para outro plano superior, o da vocação.

Um jovem voluntário explica-nos que ser voluntário não se limita a actuar dentro de quatro paredes: «é imensurável a quantidade de coisas que podemos fazer pelos outros, e o significado que podem ter na vida das pessoas que ajudamos. Não é necessário ser voluntário numa instituição, basta no nosso dia-a-dia estarmos disponíveis para os outros e não entrarmos na rotina egoísta de pensarmos só no que nos convém».

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