01 junho, 2006

Breg: «o Graffiti é a forma que uso para me exprimir»


O Graffiti, também apelidado de arte de rua, tem vindo a ser cada vez mais explorado e inserido na sociedade, fazendo com que uma das suas principais características negativas, a marginalidade, seja posta de lado. É o caso deste nosso entrevistado, natural de Valbom e que assina como ‘Breg’. Em Gondomar, ouvimos confidências deste pintor de rua, que nos deram uma maior perspectiva da realidade que envolve o mundo do Graffiti e toda a sua cultura.
Por: Daniel Faria

Prev: Boa tarde, Breg! Queriamos começar por perguntar o que, para ti, é, o Graffiti?

Breg: Bem, para mim, o Graffiti é a forma que uso para me exprimir, para libertar o stress do dia-a-dia ou da semana: é a melhor forma para estar à vontade comigo mesmo.

Prev: Quantos anos tens e com que idade começaste na arte da pintura urbana?

Breg: Vou fazer 23. Comecei em 1999... já foi há algum tempo.

Prev: Como é que ouviste falar desta corrente e te inseriste no movimento?

Breg: No 10º ano fui para a Escola Soares dos Reis e, na minha turma, havia um rapaz que tinha vindo dos Estados Unidos. Ele já pintava na América e tinha um álbum. Conheci-o e comecei por ver o álbum e acabei a interessar-me por aquilo...!

Mais tarde, fartei-te de chatear a cabeça aos meus amigos para começarmos a pintar. Principiei-me nas linhas de comboio, nem sabia bem que materiais usar ou onde comprar!

Prev: Quais os estilos que mais utilizas?

Breg: O wildstyle e o 3D. Posso fazer algo mais figurativo se estiver a realizar algum trabalho encomendado, mas no meu próprio estilo reúno o lettering, o wildstyle e o 3D.

Prev: Em termos temáticos, existem alguns temas que abordes mais?

Breg: Não costumo funcionar assim, só se for para um trabalho. Normalmente, junto-me com o meu grupo, pintamos um fame e é depois que aparecem ideias. Cada um faz o seu estilo, o seu lettering, a sua peça. Depois, nasce a ideia para o fundo e juntam-se as ideias de todos. Como disse, só costumo trabalhar com temas predefinidos para trabalhos. Por exemplo, se tiver de realizar um workshop para a Câmara de Gondomar, tenho primeiro de analisar as idades dos participantes ou o sítio onde se vai pintar.

Prev: E costumas pintar neste Concelho?

Breg: Só quando comecei e mesmo aí foram poucas coisas. Pinto no Porto, porque a maior parte das pessoas do meu grupo são de lá.

Prev: Mas existem poucos sítios para pintar...

Breg: Existem poucos sítios e também não sinto muita vontade... Não vale a pena trazer o meu grupo do Porto para aqui quando tenho lá muito melhores sítios para pintar! Daí que, mesmo quando comecei, só ter pintado nesta cidade em fábricas abandonadas.

Prev: Existem apoios das Câmaras ou de Gabinetes da Juventude, para o Graffiti?

Breg: Até podem existir poucos Graffitis em Gondomar, ou de pouca qualidade. Mas, a meu ver, a Câmara é das que dá mais apoio: organiza concursos, workshops, oficinas… acabei de fazer uma há relativamente pouco tempo. Quando comecei era impensável que, um dia, iria dar "aulas" desta nova arte de rua!...

Prev: Costumas pintar em locais ilegais?

Breg: Raramente. Acontecia mais no início. Tentamos legalizar paredes e até nos damos ao trabalho de comprar tinta de rolo para que o desenho sobressaia melhor. Hoje em dia, é uma moda que nos entra pela casa dentro, através da televisão. Existe muita arte ilegal e vandalismo que muitos associam ao Graffiti: provavelmente, essas manifestações artísticas são feitas por pessoas que não têm nada a ver isto.

Prev: Quando pintavas em locais ilegais, costumavas utilizar alguma estratégia?

Breg: Convém estudar-se o local onde se vai pintar e as possibilidades de fuga, caso a polícia apareça. Normalmente, pinta-se à noite, apesar de eu já ter chegado a pintar às 09:00 da manhã...!

Prev: Para legalizar paredes fazem um pedido à Câmara?

Breg: Normalmente não falamos com a Câmara. Se gostarmos de uma parede, tentamos conhecer o proprietário para lhe pedir autorização: uns dão, outros não dão, é uma questão de sorte.

Prev: Na tua opinião, quais as dicas para quem se está a iniciar nesta arte?

Breg: Desenhar muito! ...A base está no desenho. É preciso adquirir técnica e ter atenção ao local em que se vai pintar, no início.

Não convém que alguém que se esteja a iniciar comece a pintar em paredes com Graffitis de qualidade. Deve encontrar um sítio mais escondido, onde possa experimentar e aprender, sem ninguém a chatear: foi assim que eu comecei...

Prev: Que processo usas para a construção do Grafffit: fazes algum rascunho antes começar?

Breg: Como disse, o desenho é fundamental. Deve andar-se com um caderno para fazer um estudo antes de pintar. Hoje em dia já não faço isso, porque não tenho tempo: costumo chegar à parede e começar imediatamente a pintar.

Prev: Para finalizar, quais as tuas perspectivas para o futuro das pinturas de rua, em Portugal?

Breg: Há cinco anos atrás, Lisboa estava muito mais evoluída do que o Porto, mas hoje em dia já estão no mesmo patamar. Claro que, em Lisboa, existe muito mais apoio de Câmaras e associações. Mas espero que Portugal continue a evoluir ao mesmo ritmo dos últimos tempos, pois tem dado um salto enorme.

No entanto, os autores das obras continuam a não querer ser facilmente identificados devido a que, muitas vezes, as suas telas estão em locais públicos, ilegalmente. Assim, fazem uso de nomes de código, para evitar serem reconhecidos pelas forças policiais.Graffiti, também apelidado de arte de rua, tem vindo a ser cada vez mais explorado e inserido na sociedade, fazendo com que uma das suas principais características negativas, a marginalidade, seja posta de lado. Graffiti e toda a sua cultura.

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