01 junho, 2006

O táxi digital


Por: José Serra

O sector dos táxis está a evoluir. É José Monteiro, vice-presidente da Associação Nacional dos Transportes Rodoviários em Automóveis Ligeiros (ANTRAL). «A electrónica e as comunicações evoluíram bastante e o sector está a adaptar-se» – descreve José Monteiro – «neste momento nos táxis e dos táxis é possível fazer e saber tudo!»

No entanto, esta afirmação não se adapta a todo o país. Enquanto que, em Lisboa, a Câmara disponibilizou à ANTRAL apoio financeiro que permitiu às viaturas estarem equipadas com o Geographical Positioning System (GPS), no Porto isso já não acontece. «Estamos a falar de um presidente economista e os economistas o que mais sabem é guardar dinheiro», ironiza o vice-presidente.

A ANTRAL desenvolveu tecnologicamente uma central de segurança de âmbito nacional, que liga as comunicações dos táxis, revela José Monteiro. A sua perspectiva aponta para que se deva «aproveitar os meios que são postos ao dispor da segurança, potenciá-los, nomeadamente no intuito da distribuição de serviços e do pagamento por cartão electrónico».

No banco de passageiros do táxi de Jorge Oliveira, ouvimos este motorista de profissão vaticinar que o multibanco vem de encontro ao modo de vida actual. E acrescenta ainda outra razão para este sistema de pagamento: «assim, andamos com menos dinheiro no carro e já não há um chamariz para o ladrão. Normalmente quem nos assalta são pessoas que precisam de dinheiro rápido», diz.

José Monteiro, ele próprio um antigo motorista de táxi, afirma que o GPS tem de ser complementado com uma outra medida de segurança. «É necessária a vídeo vigilância dentro dos táxis. Todos os clientes têm de ser fotografados». Diz que, desta forma, se previne a impunidade de casos como o dos «taxistas assassinados há uns anos, que foram o motivo por que Santana Lopes, enquanto presidente da Câmara de Lisboa, prometeu dar GPS a todos os táxis», lembra Monteiro.

«Hoje, em Espanha, o sistema digital é banal» desabafa José Monteiro. O vice-presidente da ANTRAL descreve, na primeira pessoa, o que é uma viagem num táxi digital espanhol: «viajei com um táxi em Barcelona, que tinha o Sistema de Navegação por Satélite (SNS). Esse sistema - explica Monteiro – regista informação das entradas e saídas dos táxis, bem como os locais onde aconteceram».

E continua, com um indisfarçável ciúme: «o cliente entra, o taxímetro é accionado, o SNS detecta quando o táxi começa a andar e, quando passa a situação de pagamento, emite automaticamente o valor da viagem. Por isso não é preciso recibo, ao contrário de cá». O membro da ANTRAL revela também que «quando o táxi chega à porta do cliente, existe um telefonema automático enviado pela central dos táxis, que avisa, a mando do taxista, a chegada do táxi».

Segundo José Monteiro, estes serviços já são possíveis em Espanha por existirem apoios concretos: para além da ajuda dada para a implementação dos serviços digitais, Jorge Oliveira revela-nos outro exemplo vindo dos nossos vizinhos: «a Câmara de Madrid comparticipa 40% na gasolina do táxi reduzindo, deste modo, o preço das tarifas».

Já em Portugal, José lembra que as complicações económicas dificultam os subsídios a nível nacional. «Esses apoios fazem muita falta», conta-nos amargurado. A esta voz junta-se à de Jorge Oliveira que, revoltado, exclama: «o táxi devia ser um meio de transporte que, por parte da Câmara, devia ser mais reconhecido e tratado como útil!»

Além disso, o vice-presidente Monteiro revela algo um pouco caricato: «o governo publicou a lei 6/98 (há 8 anos atrás) em que se comprometia a comparticipar até 50% do valor do GPS e, até hoje, zero»! Deste modo, a alternativa consistiu em parcerias: «as autarquias substituíram-se ao governo, em conjunto com a ANTRAL, por exemplo, na constituição da Central de Segurança de Âmbito Nacional», explica Monteiro.

O vice-presidente da ANTRAL, desiludido, acrescenta ainda que «o próprio sector não tem rentabilidade para estes investimentos avultados, pois, para cada táxi, são necessários 5 mil euros para colocar o GPS e, só no Porto, existem 730 táxis», remata. O motorista Oliveira diz mesmo que «a segurança não existe porque é tudo à custa do dono do táxi».

Enquanto aguardamos que algum cliente entre para o banco de trás e interrompa a entrevista, o Jorge, para clarificar, descreve-nos o seu caso «se calhar vou estar hora e meia à espera de um serviço de três euros! Para manutenção, gasóleo… não há capacidade financeira para colocar um GPS», conclui.

«O táxi tem de estar em consonância com o poder de compra das pessoas» responde José Monteiro, quando confrontado com a questão da possível subida dos preços do serviço dos táxis, devido ao necessário retorno do investimento nos GPS.

«Num país em crise, não podemos disparar o preço das bandeiradas por aí acima, senão acabamos por perder!» continua o vice-presidente da ANTRAL. «O povo não teria dinheiro para pagar e os táxis, em vez de trabalharem a 30%, passariam a trabalhar a 10%».

Na opinião de José Monteiro, neste momento, os preços praticados nos táxis são muito baixos. «Não há comparação a nível europeu», revela. Monteiro considera isto «paradoxal», pois afirma que apesar de Portugal ter «o preço dos combustíveis e dos componentes dos carros igual ao da Europa - e o dos carros se calhar mais caro! - a hora de espera na Dinamarca é de 50 euros e em Portugal é 8 euros».

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