01 junho, 2006

Geocaching

Nas serras do Alvão e do Marão escondem-se, em buracos cobertos por pedras e giestas, pequenos tesouros cobiçados mundialmente. Como qualquer tesouro que se preze, estes são alvo de lendas e histórias fantásticas daqueles que, munidos da mais alta tecnologia, se aventuraram por caminhos pouco frequentados para adicionar o seu nome à lista dos mais corajosos. Aliás, para os mais curiosos e potenciais caçadores de tesouros, a informação acerca da sua exacta localização e as histórias dos que os procuram estão disponíveis na Internet.

Por: Paulo Teixeira

Uma actividade relativamente moderna que desafia uma classificação tipológica - o Geocaching - está a espalhar-se rapidamente pelo mundo e é possível graças às capacidades do Global Positioning System (GPS).

O seu objectivo geral é o de localizar o que se denomina uma cache, escondida das mais diversas maneiras, no mais diferentes lugares e praticamente por todo o mundo.

A actividade gira em torno de um website central, aonde se disponibiliza toda a informação necessária para poder participar. Embora existam vários sitios na Internet que oferecem esta funcionalidade, é em www.geocaching.com que se encontra a mais vasta cobertura de todos os aspectos da modalidade.

Através de um registo grátis, o novo membro tem acesso à informação pertinente e pode começar, imediatamente, a pesquisar e a planear a sua visita aos vários locais.

Como funciona então o Geocaching?

As caches não são mais do que pequenos contentores herméticos de plástico, do estilo tupperware, muito comum nas cozinhas. No seu interior encontram-se, em regra, uma caneta ou lápis, acompanhados de um pequeno livro de visitas e de um "tesouro" constituido desde pequenos brinquedos, caixas de fósforos, moedas estrangeiras, selos, entre tantas outras coisas.

A sua localização não segue regras específicas, mas todas se baseiam no princípio geral de não serem facilmente encontradas pelo público em geral. Cabe à imaginação de quem as coloca determinar o grau de dificuldade de localização, tanto em termos de trabalho intelectual como físico, sendo para isso muito importante a selecção dos locais.

Cuidadosamente escolhidos de duma vasta gama de ambientes, podem variar desde meio de grandes cidades até aos locais mais remotos do planeta. Em Portugal, os exemplos vão desde o topo de serras, como a do Marão, até ao recinto duma bem conhecida maternidade em Lisboa.

Depois de instalada, a cache é anunciada no site. A informação sobre a sua localização é disponibilizada sob a forma de coordenadas geográficas e de informação adicional, se necessário. É aqui que entra o elemento essencial à actividade: o terminal de GPS. Uma função comum a praticamente todos os terminais de GPS é o de aceitar coordenadas inseridas pela utilizador, denominada waypoints.

A partir destes, o GPS determina a distancia até ao local e a orientação que o utilizador deve seguir. O mostrador pode, inclusivamente e nos modelos mais avançados, mostrar a localização da cache num mapa, completo com informações adicionais, tais como acidentes geográficos.

Contudo, basta uma unidade simples que indique a direcção a tomar, pois uma vez no local, o geocacher terá que usar uma mistura de esforço intelectual e um pouco de sorte para encontrar a cache, algo que nenhum mapa, por mais avançado que seja, pode fazer.Uma vez encontrada a cache, o geocacher anota no livro de registos a data da sua visita e redige uma pequena mensagem.

A prática mais comum em relação ao "tesouro" é a de retirar algo e adicionar outro objecto, contudo não há regras específicas a seguir, para além da prática das da cortesia comum. O mesmo se pode dizer em termos do tipo de objecto, embora seja necessário considerar que a grande maioria das caches são relativamente pequenas. O livro de visitas pode conter informação adicional, muitas vezes sobre particularidades do local onde se encontra.

Porque praticar geocaching?

Ricardo Ribeiro, um webdesigner residente no Algarve, é um do geocachers mais activos em Portugal. Para além de estar em busca quase permanente das cerca de 590 caches estimadas em território nacional, é também o dono de cinco delas.

Para ele «o sucesso do geocaching está na diversidade, pois pode ser praticado tanto pela família como pelo lobo solitário; pode envolver grandes caminhadas e esforço físico... ou praticamente nenhum destes».

O Geocaching é uma actividade que, como dito, desafia a sua classificação, particularmente se é um desporto ou não. Nelson Cortes, geocacher e professor do ensino secundário de Educação Física, em Almada, sublinha que «um desporto envolve actividade regulamentada e competição» enquanto que Ricardo Ribeiro nota que «o xadrez é desporto, mas não é actividade física desportiva», o que demonstra o quanto fugaz é o Geocaching em caber em moldes de classificação tradicionais.

A diversidade que o Geocachig oferece reflecte-se bastante na motivação dos participantes que podem escolher uma razão ou várias para praticar esta actividade. Entre estas contam-se o exercício físico, o desafio da caça e da perseguição e «o roteiro turístico, através do qual se conhecem novos pontos de interesse», este ultimo o motivo de força para Ricardo Ribeiro. «E depois há os que curtem imenso criar caches... é quase o seu principal objectivo», afirma o webdesigner.

Muitas caches instaladas mundialmente estão localizadas em montanhas, florestas e zonas rurais, o que acaba por atrair praticantes com uma veia ambientalista. Algumas das caches instaladas em parques nacionais dos Estados Unidos são disponibilizadas pelas próprias agências federais, que reconhecem na cache um enorme potencial: o de sensibilizar os visitantes pelo respeito à natureza. Por seu lado, o sitio geocaching.com promove, em parceria com vários patrocinadores, o que chama de "Cache In – Trash Out (CITO) days", em que se pede aos geocachers que recolham, em sacos de plástico, o lixo encontrado à volta das caches e que o removam do local.

Assim, e embora seja intricado categorizar como actividade o Geocaching, «é possível reconhecer que se reflecte nela um modo tecno-optimista de estar no mundo» refere Ricardo Ribeiro, que continua: «o cidadão digital põe o computador e o GPS ao serviço não só da busca de prazer, mas ao ponto de reformular conceitos, como o de ‘Turismo’, ‘Ambientalismo’ e de ‘Desporto’».

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