01 junho, 2006

Editora de Arte e de Sonhos

Ricardo e Adriana iniciaram há cinco anos um sonho: em Vila Nova de Gaia, deram os primeiros passos na criação da Corpos editora, à qual eles chamam

Por: Rita Homem de Mello

Completou cinco anos em Maio de 2005 e já lançou cerca de 150 artistas. Ricardo de Pinho Teixeira e Adriana Pereira são a alma desta editora que apela à renovação, ao livro aberto para todos.

A postura vanguardista da Corpos respeita o clássico, mas acredita que a Cultura pode ser desmistificada para chegar ao maior número de pessoas. A criatividade e o espectáculo são, para este casal, a maneira ideal de fazer com que a poesia alargue o seu horizonte de leitores.
É por acreditarem que conseguem encorajar mais pessoas a entrar no êxtase da leitura, que Ricardo e Adriana se esforçam por libertar o livro, aliando-o outras expressões artísticas à sua apresentação: «Queremos mostrar diversas vertentes ao mesmo tempo», diz Adriana com a intenção de conquistar um público que, à partida, seria difícil.

Na sua essência, a Corpos quer mostrar que a Arte é acessível para todos e «se a desmistificarmos podemos acabar com o feudalismo intelectual que ainda vigora no nosso país», comenta Ricardo com certa revolta.

A provar esse pensamento estão os "maços de poemas" concebidos pela Corpos. «A ideia é transformar objectos vulgares, como maço de cigarros ou tubos de ensaio, em palavras mágicas que alimentam o vício dos mais curiosos», explicam enquanto apresentam as suas inovações.
«Ousadia e determinação, inspiração e transpiração» são armas que Ricardo e Adriana afirmam na luta do universo livreiro. Isto porque «é difícil introduzir um novo autor num país onde não se lê», mas a Corpos acredita e, por isso, preferem a qualidade à quantidade.

Até hoje já tiraram da sombra 150 corpos literários que até há cinco anos eram desconhecidos das estantes de muitas livrarias e estavam longe da animação das noites literárias do Púcaros, Pinguim, Guarani e outros.

Até ao livro sair, tudo fica a cargo da editora, a primeira edição, a estética da apresentação, a parte gráfica e a distribuição que é selectiva porque nem todas as livrarias aceitam apostar em novos talentos. O preço dos livros é acessível, andando à volta dos quinze euros cada.

Os lançamentos são feitos, geralmente, na noite citadina. Ricardo e Adriana são da opinião que a noite se adequa melhor ao espírito da Corpos. «Queremos surpreender, invadir, mostrar algo diferente a pessoas que nunca entram numa livraria...», o que os faz preferir os espaços onde se possa tomar um copo e ao, mesmo tempo, desfrutar de sons e gestos poéticos».

«O lançamento tem que ser o rosto do autor e é importante fazermos com que o artista acredite em si próprio!», afirma Adriana. O facto de ser uma editora pequena, facilita a parte humana e sensível que se estabelece na relação entre a Corpos e o seu público-autor.

Na Corpos encontramos desde a prosa à poesia; dos contos às histórias infantis; da fotografia, à pintura e também diferentes idades e perfis de autores.

«Já editámos pessoas com convicções mais comuns até professores catedráticos… Há várias formas de ilustrar a literatura, de a declamar, encenar, até porque é nos lançamentos que os artistas se dão a conhecer ao público e, por isso, é importante marcar a diferença» esclarem os editores.

Ricardo frisa a ideia de que, hoje em dia, tudo está ligado ao Marketing e à Publicidade e, por isso, para a Corpos, a ideia de inovar é um conceito fundamental «até para o Estado que obriga a editora a oferecer onze exemplares por edição enquanto que, por exemplo nos Estados Unidos, o Estado é obrigado a comprar 15 por edição! …Talvez se se começasse por aqui, muitos dos problemas nacionais acabariam, particularmente o da subsídio-dependência…»

Sem comentários: